Espólio de García Márquez custou 1,9 milhões ao Texas

Depois de recusar revelar quanto pagou pelos documentos do Nobel colombiano, a universidade americana foi obrigada a revelar montante e contrato de depósito da importante colecção.

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Eliana Aponte/REUTERS

No final de Novembro, quando foi tornado público o destino do espólio do Nobel Gabriel García Márquez – os EUA, onde foi persona non grata durante décadas -, não se sabia quanto é que o Harry Ransom Center da Universidade do Texas tinha pago pelas cartas, fotografias e objectos pessoais do escritor colombiano. Agora, obrigada pela justiça, a instituição tornou público o valor: 2,2 milhões de dólares, ou 1,9 milhões de euros.

O arquivo literário da universidade foi obrigado, depois de em Novembro ter recusado revelar a quantia pela qual adquirira o espólio do autor de Cem Dias de Solidão, a precisar quanto pagou apesar de alegar que tornar pública a cifra poderia inflacionar futuras aquisições. Por ordem do gabinete do procurador-geral estadual numa decisão de dia 19, como noticia a agência de notícias norte-americana Associated Press, o contrato tem de ser tornado público. Ainda assim, se a porta-voz do Ransom Center indicou o montante, o contrato ainda não foi disponibilizado.

O Harry Ransom Center é um dos mais importantes arquivos literários do mundo. Nele estão os espólios de James Joyce, Ernest Hemingway, William Faulkner, Jorge Luis Borges, os arquivos de D. H. Lawrence, John Steinbeck ou Evelyn Waugh, cartas de Edgar Allan Poe, documentos de Doris Lessing, David Mamet, Norman Mailer, J. M. Coetzee e Don DeLillo ou o bloco de notas de Jack Kerouac que serviu a Pela Estrada Fora, entre 42 milhões de manuscritos, um milhão de livros raros e primeiras edições, cinco milhões de fotografias e 100 mil obras de arte. O centro dedica-se também a outras expressões artísticas, acolhendo os arquivos do produtor David O. Selznick ou da actriz Gloria Swanson e mais de cem mil obras de arte.

Há três meses, mais de 50 anos de García Márquez também residem no Texas. Manuscritos, blocos, correspondência com Graham Greene, Milan Kundera, Julio Cortázar, Günter Grass e Carlos Fuentes, fotografias (entre as quais o pouco que sobreviveu da actividade política pró-Fidel do escritor e que motivou a sua saída dos EUA) e objectos pessoais (além de máquinas de escrever e computadores), a versão final dactilografada que o escritor enviou à editora com uma nota de cabeçalho de Cem Anos de Solidão (1967) ou uma das poucas cópias existentes de En Agosto nos vemos, romance deixado por terminar com a sua morte, em Abril de 2014.

A decisão sobre qual o depósito final do espólio do Nobel foi tomada pela sua viúva, Mercedes Barcha, e pelos seus filhos Rodrigo e Gonzalo García, como disse à agência de notícias espanhola em Novembro o director do Ransom Center, Steve Enniss.

A transacção, realizada meses antes através do mediador nova-iorquino Glenn Horowitz, motivou grande satisfação por parte dos responsáveis pelo arquivo, que assim acolhe mais um grande nome da literatura que, aliás, era avesso à análise da sua obra e que preferia que só ela, e nenhum outro escrito paralelo, falasse. Menos satisfeito ficou o governo colombiano, com a ministra da Cultura a manifestar “pena” para logo um dos herdeiros de García Márquez contrapor que “o Governo colombiano nunca se fez presente nem nunca fez qualquer oferta”. “A intenção da família foi sempre encontrar o melhor lugar para o arquivo, independentemente de onde fosse”, disse Rodrigo García Barcha, citado pela EFE.  

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