Saída de quadros para Isabel dos Santos abala relação com Sonae

Sonae diz que vai encetar “todas as medidas legais possíveis” contra os dois quadros de topo que têm "informações internas relevantes” sobre o projecto de lançar o Continente em Angola.

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Paulo Azevedo e Ângelo Paupério, da Sonae Fernando Veludo/nFactos

A saída inesperada de dois quadros de topo da Sonae para a esfera empresarial de Isabel dos Santos pode abalar o bom entendimento entre os dois grupos, parceiros estratégicos em Portugal (Nos) e em Angola (Continente). A Sonae diz estar “atenta aos desenvolvimentos” e a “aguardar informação adicional”. Até ao momento "não tomou qualquer decisão em relação ao projecto” africano.

Num tom invulgarmente forte, a Sonae enviou, por email, esta segunda-feira a um círculo restrito de colaboradores do segmento da distribuição uma nota interna a informar que vai encetar “todas as medidas legais possíveis” contra os dois quadros de topo “com acesso a informações internas relevantes”, em particular sobre o projecto de investimento da cadeia de hipermercados Continente em Angola.

O grupo liderado pela família Azevedo menciona os nomes de Miguel Osório e João Seara e acusa-os de terem tomado “decisões de extrema gravidade e deslealdade”, pelo que estão agora “suspensos ou demitidos”. Isto, depois de se terem “comprome-[tido] a assumir funções noutro projecto em Angola”, num quadro de “ruptura com a Sonae e com os contratos e acordos em vigência”.

Inquirida pelo PÚBLICO, a Sonae (dona do PÚBLICO) explica que “foi informada pelos dois quadros de que tinham aceitado desempenhar funções de elevada responsabilidade num grupo de retalho em Angola”. A Sonae não tem, por enquanto, “confirmação formal do grupo Isabel dos Santos” de que foi uma sociedade da parceira angolana a responsável pelas contratações. Miguel Osório e João Seara foram recrutados pela Condis, dominada por Isabel dos Santos, com uma "oferta imbatível”, segundo fonte do PÚBLICO. Já a Condis não respondeu às questões colocadas pelo PÚBLICO.

Em Abril de 2011, a Sonae e a Condis celebraram uma parceria para a entrada do grupo português em Angola com uma rede de hipermercados com a marca Continente. Apesar da operação de retalho continuar parada em termos operacionais, os edifícios que vão receber as grandes superfícies estão já em construção.

Os nomes de Isabel dos Santos e da Condis não constam da nota interna dirigida esta segunda-feira aos quadros do Continente, mas a sua leitura indicia que as saídas de Osório e Seara podem ter aberto uma frente de dificuldades no relacionamento entre sócios com interesses partilhados. Um facto que a Sonae terá optado por não esconder, dado que não só escreveu a nota, como usou termos fortes para descrever os factos e os transmitiu aos seus quadros por email.

Falta saber até que ponto o abalo na relação luso-angolana prejudica o entendimento entre a Sonae e Isabel dos Santos, ou se, no final, acabam a dialogar uns com os outros.

Para além do acordo para Angola, Isabel dos Santos e a Sonae repartem o controlo da empresa de telecomunicações portuguesa Nos. “A parceria com o grupo Isabel dos Santos em Portugal restringe-se ao acordo na Nos, que é uma empresa cotada com o seu quadro de governo próprio”, lembra a Sonae.

Isabel dos Santos, assessorada pelo advogado Jorge Brito Pereira e por Mário Silva, tem actualmente um outro foco de atenção em cima, lateral ao relacionamento com a Sonae. No BPI o ataque partiu da espanhola La Caixa, que tem 44,1% da instituição financeira, e onde a Santoro (da empresária) possui 19% das acções. A OPA lançada pelo La Caixa sobre a totalidade do capital do banco liderado por Fernando Ulrich visa desblindar os estatutos do BPI (que restringem os votos a 20% do capital) e alterar a relação de forças interna, o que desvaloriza a posição de Isabel dos Santos. A empresária ainda não respondeu à proposta do La Caixa, indiciando um quadro negocial complicado.

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