Quem foi, afinal, mais alemão do que a Alemanha?

Bloomberg noticiou que Luis de Guindos, ministro espanhol das Finanças, foi o mais duro com a Grécia, chegando a “eclipsar” Wolfgang Schäuble.

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Luis de Guindos e Yanis Varoufakis na reunião de sexta-feira EMMANUEL DUNAND/AFP

Quem foi, afinal, mais alemão do que a Alemanha? A portuguesa Maria Luís Albuquerque ou o espanhol Luis de Guindos? Logo na sexta-feira, dia do acordo com o Eurogrupo, jornais gregos, mas também outras publicações, como o britânico The Guardian, noticiaram que a maior oposição ao entendimento entre os parceiros do euro e a Grécia veio dos ministros ibéricos. O jornal alemão Die Welt escreveu depois que a governante portuguesa pediu “pessoalmente” firmeza ao homólogo de Berlim, Wolfgang Schäuble.

Mas essa não é a única versão sobre o que aconteceu nos bastidores do acordo de extensão do financiamento entre a Grécia e os parceiros da zona euro por quatro meses. A partir do testemunho de dois participantes nas negociações que pediram anonimato, a agência Bloomberg escreveu que foi Luis de Guindos o principal protagonista. Schäuble, normalmente o mais duro, "foi eclipsado" pelo ministro espanhol. Nada é dito sobre o papel de Maria Luís Albuquerque, que tem sido criticada pela oposição portuguesa.

O ministro espanhol tomou, segundo o relato da Bloomberg, a “posição mais dura” e chegou a levantar a voz e a protestar com o ministro grego, Yanis Varoufakis, a quem teria dito que tem de ganhar a confiança dos colegas do Eurogrupo e aprender como é conduzida a política a nível europeu. Depois de o grupo ter rejeitado uma sugestão de Schäuble para uma reunião nesta terça-feira, para apreciar as medidas gregas que permitam viabilizar o acordo de sexta-feira, foi Guindos quem insistiu, obtendo a concordância para uma teleconferência dos ministros do Eurogrupo, acrescenta a agência.

A dureza de Guindos, que já foi apontado como possível sucessor do actual presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, seria explicada pela preocupação do Governo de Madrid com os efeitos internos das negociações. Uma “vitória” grega não deixaria de ser aproveitada em Espanha pelo Podemos, um “partido irmão” do grego Syriza, que tem estado em destaque nas sondagens e contesta a política de austeridade, que considera errada. Alguns estudos de opinião atribuem-lhe a maioria das intenções de voto nas eleições legislativas do final de 2015.

Uma porta-voz do Ministério espanhol das Finanças negou que Luis de Guindos tivesse gritado ou levantado a voz com Varoufakis. A Espanha, acrescentou, é favorável ao diálogo e à flexibilidade, dentro das regras, e mostrou solidariedade para com a Grécia, contribuindo com 26 mil milhões de euros para o seu resgate, numa altura de dificuldade das suas próprias finanças.

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