Tomate português à conquista do primeiro lugar no Japão

Podemos perder terreno para os nossos concorrentes mais directos, como a Itália, China ou Turquia, se não apostarmos fortemente na promoção.

Portugal é o segundo fornecedor mundial de tomate no Japão, o seu segundo mercado de exportação – e estratégico para um setor que é o terceiro mais exportador do país. Mas estes são factos que não acontecem por acaso.

E se o clima favorável e a elevada produtividade (e gestão sustentável) dos solos ajudam a explicar a qualidade, a cor e o sabor da matéria-prima, a existência de uma indústria e uma gestão altamente competitivas, empenhadas em aplicar as melhores e mais avançadas práticas internacionais, permitem assegurar o mais importante: um tomate transformado de grande qualidade, à altura dos países e consumidores mais exigentes.

No top-10 mundial de um setor liderado pelos EUA (basicamente, a Califórnia), que produz 11 milhões de toneladas de tomate anualmente, seguido pela Itália e a China, respetivamente com 4,1 e 3,9 milhões, Portugal produziu 1,2 milhões de toneladas em 2014 e tem a ambição de atingir, muito em breve, os 2 milhões. Naturalmente, num mercado altamente competitivo e dinâmico, esta expansão terá que passar pelo crescimento em quota e valor, para exportar, não apenas polpa e concentrado, mas também produtos finais de elevado valor acrescentado.

Um tomate mais doce que em outras latitudes e uma indústria empenhada em preservar as qualidades naturais da matéria-prima. Estes são fatores distintivos da produção nacional, que fazem todo a diferença quando falamos de mercados como o nipónico, permanentemente à procura de “novidades” de consumo. Por outro lado, certos nutrientes do fruto, como o licopeno ou a cutina, intensificados pelas condições de cultivo e produção do país, permitem o desenvolvimento de uma panóplia de derivados, como sumos, cervejas, gelatinas, gelados e – pasme-se – vinhos. A cosmética e a indústria conserveira são outras áreas com potencial.

O novo centro de competências, no distrito de Santarém, além da admissão e formação de investigadores e técnicos especializados, numa aposta clara em conhecimento e know-how de cunho português, inclui laboratórios, estufas e uma mini-fábrica para processar e testar variedades e novos produtos. O investimento é elevado (na última década, o setor investiu perto de 60 milhões de euros em inovação em Portugal!), mas os ganhos esperados são significativos: subida de 10% na produtividade por hectare e também de 10% nos dias da campanha.

Apesar das muitas conquistas de uma fileira que é hoje a quarta maior exportadora a nível mundial, com níveis de exportação em torno dos 95%, a competitividade do setor pode estar ameaçada se não foram acauteladas questões sensíveis e decisivas (i) a nível interno, como a universalidade dos seguros de colheita ou a descida dos custos energéticos, e (ii) a nível externo, como a atenção às regras de mercado e de regulação de países concorrentes, aos acordos comerciais UE-EUA ou às diferenças cambiais – com o Euro, felizmente mitigadas.

Acima de tudo, podemos perder terreno para os nossos concorrentes mais diretos, como a Itália, China ou Turquia, se não apostarmos fortemente na promoção do setor “estrela do agroalimentar” junto dos mercados onde somos quase líderes ou onde estamos a consolidar a nossa posição. O Japão é, a esse nível, paradigmático, na medida em que, após ultrapassarmos o maior produtor mundial em 2012, os EUA, temos, neste momento, a oportunidade histórica de ultrapassar a China e conquistar a primeira posição no fornecimento de tomate ao país do sol nascente.

Secretário-Geral da Associação dos Industriais de Tomate

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