Passos diz que Portugal teve “posição construtiva” no acordo com a Grécia

Alegadas reticências do Governo português despertaram coro de críticas dos partidos da oposição.

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AFP

O primeiro-ministro veio garantir neste domingo que Portugal esteve no Eurogrupo para analisar a situação da Grécia com uma "posição construtiva", recusando qualquer concertação com a Alemanha.

"Portugal esteve como todos os outros países que compõem o Eurogrupo com uma posição construtiva procurando que fosse possível ao Governo grego pedir uma extensão não apenas do empréstimo que tem vigorado, mas também das condições que lhe estão associadas", afirmou Pedro Passos Coelho à Lusa, em declarações aos jornalistas à saída da cerimónia de apresentação de cumprimentos ao cardeal Manuel Clemente, que decorreu no Mosteiro dos Jerónimos.

Assinalando uma evolução na atitude do Governo grego, Passos Coelho defendeu que se deve ter "uma atitude positiva" para que se mantenha a disponibilidade para que "tudo dê certo" e a Grécia possa fechar o seu programa de assistência financeira.

As declarações do primeiro-ministro surgem depois de o jornal alemão Die Welt ter noticiado que a ministra das Finanças portuguesa pediu ao homólogo alemão, Wolfgang Schäuble, para ser firme nas negociações com Atenas.

A notícia despertou um coro de críticas da oposição, apesar de Maria Luís Albuquerque ter garantido que não sugeriu qualquer alteração ao acordo e que levantou apenas questões relacionadas com procedimentos.

O deputado do PS João Galamba criticou a actuação de Maria Luís Albuquerque, considerando que o Governo português esteve mais interessado em defender as suas políticas de austeridade do que o interesse nacional. As declarações da ministra das Finanças, numa entrevista à TVI no sábado à noite, foram uma tentativa de “apagar esta imagem”, afirmou o socialista.

As notícias sobre as alegadas reticências do Governo português em relação ao acordo com a Grécia provocaram As críticas surgiram depois de vários meios de comunicação social gregos terem noticiado que os ministros das Finanças de Portugal e Espanha foram os que mais objecções levantaram à proposta de acordo.

“Mas as justificações da ministra não colhem, porque já são demasiadas descrições do que se passou na reunião do Eurogrupo e demasiadas descrições do que foi o comportamento do Governo português nas últimas semanas para que Maria Luís Albuquerque, dê as entrevistas que der, faça as declarações que fizer, possa apagar essa imagem”, acrescentou.

Informações que ganharam corpo na conferência de imprensa do ministro das Finanças grego, que recusou comentar a situação por “boas maneiras”. Yanis Varoufakis disse apenas: “Os ministros das Finanças português e espanhol são meus colegas e eu percebo que têm as suas próprias prioridades políticas. Foram motivados por essas prioridades políticas e eu respeito isso”. O Governo português desmentiria as notícias ainda no sábado, garantindo que se tratava de “um boato”. À noite, na entrevista à TVI, Maria Luís Albuquerque disse deixava uma garantia: “Não sugeri a alteração de uma única vírgula”.

Além do PS, também o secretário-geral do PCP afirmou que o Governo “sempre alinhou com o que de pior houve nas orientações europeias e é legítima a leitura de subserviência à Alemanha, porque a ministra das Finanças pôs-se a jeito”. “Nenhum de nós sabe o que se passou no Eurogrupo, mas é bom lembrar que neste processo de intervenção das troikas, designadamente no nosso país, (...) Passos Coelho afirmou na altura que o seu programa era o programa da troika, e que, custe o que custar, esse programa tinha de ser concretizado”, afirmou Jerónimo de Sousa.

A porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, já tinha criticado no sábado a “submissão” do primeiro-ministro às políticas da troika, considerando que o Governo “envergonha” os portugueses, que é “mais alemão que os alemães” e representa “os interesses da Finança”.

Do lado do PSD, o vice-presidente do partido saiu ontem em defesa do Governo e acusou o PS de se comportar como porta-voz do Syriza. Questionado sobre alegadas pressões da ministra das Finanças e as declarações do deputado socialista, afirmou: “O doutor João Galamba devia estar escondido num canto da sala do Eurogrupo. Para poder dizer que a situação não convence, é porque ele estava lá, num cantinho da sala, a ouvir o que se passou. Quem lá esteve foi a ministra de Estado e das Finanças, que foi clara e categórica na forma como ontem (sábado) desmentiu esses rumores e esses boatos”. PÚBLICO

Já o CDS também veio neste domingo criticar o PS pelas acusações feitas ao Governo. Num comunicado enviado à Lusa, o porta-voz Filipe Lobo d’Avila lamentou que o secretário-geral do PS tenha vindo criticar o Governo português, fora de Portugal, com base numa informação errada”, porque “o princípio de acordo com a Grécia no Eurogrupo foi aprovado por consenso e Portugal fez parte desse consenso”.

Uma reacção às declarações proferidas por António Costa, no sábado, em que acusou o Governo de querer agravar a “austeridade dos outros” em vez de aproveitar a flexibilização dada à Grécia para beneficiar os portugueses.

“O CDS sempre criticou o poder excessivo dos funcionários da troika. É portanto, salutar, que a lista de medidas de que depende o acordo com a Grécia não fique apenas nas mãos de altos funcionários, antes tenha de ser analisada pelos Governos eleitos que respondem perante Parlamentos eleitos”, defendeu ainda CDS.

O partido que faz parte do Governo português, em coligação com o PSD, explicou ainda considerar “positivo” um princípio de acordo “que evite a saída de um país do euro”, bem como “que a Grécia se tenha comprometido com as regras do Euro e com a efectivação do seu programa com as instituições e países credores”.

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