Drama no Parma: “A última vez que recebemos foi em Julho”

Pedro Mendes, defesa internacional sub-21 português, confessou ao PÚBLICO que o Parma vive uma situação “delicada e assustadora”.

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Pedro Mendes chegou ao Parma em 2013-14 fcparma.com

O Parma-Udinese deste domingo foi adiado devido aos problemas financeiros que o emblema parmesão atravessa. Não havia dinheiro para garantir a segurança do encontro, que foi adiado para data a acertar no futuro. Mas o jogo pode nem se realizar porque a situação do clube, vencedor da Taça UEFA em 1994-95 e 1998-99, é verdadeiramente delicada. Pedro Mendes, um dos portugueses que alinha no Parma (o outro é Silvestre Varela), confessou ao PÚBLICO que os jogadores vivem uma situação “dramática”. “A última vez que recebemos foi em Julho”, revelou o defesa, admitindo que os jogadores podem vir a avançar para a rescisão dos contratos.

Qual é a situação do Parma?
A situação é dramática. Estamos sem receber, a última vez que recebemos foi em Julho. Já passaram alguns meses. Para jogadores que começaram a ganhar dinheiro neste ano, que chegaram neste ano ao Parma e vinham de divisões inferiores, pode ser uma situação de alguma aflição. Sustentar casa, sustentar família... É uma situação delicada e assustadora.

O Hernán Crespo, ex-jogador do Parma e actualmente treinador das camadas jovens, queixou-se que não havia sequer água quente para os banhos.
Durante a semana é de rir. Foram penhoradas duas carrinhas e um carro de serviço. O presidente disse que ia resolver tudo durante sexta-feira, mas ainda não vimos nada. Todas as pessoas que têm dinheiro a haver estão a exigir o que lhes é devido.

Tem ideia da dimensão do “buraco”?
Uns sites dizem 100 milhões, outros dizem 80... Toda a gente está a cobrar as suas dívidas. Isto já vem de há alguns anos. Os stewards não recebiam há dois anos.

Foi por isso que o jogo deste fim-de-semana, com a Udinese, foi adiado.
Não havia condições financeiras para pagar aos stewards. A Federação, não tendo garantidas as condições de segurança, não permitiu que o jogo decorresse. Havia a possibilidade de jogar à porta fechada, mas nem os jogadores do Parma nem a direcção da Udinese aceitaram, seria uma falta de respeito para com os adeptos. O jogo foi adiado para outra altura.

A direcção fala com os jogadores?
Tem havido várias reuniões. Dizem-nos: “O dinheiro chega amanhã, amanhã fazemos a transferência...” Como não temos outra alternativa, temos de esperar. Mas a paciência dos jogadores também tem um limite.

Quais são as perspectivas?
Estamos à espera de uma salvação. A Liga italiana deu um incentivo financeiro para que possamos continuar a jogar o campeonato. O importante é que haja dinheiro para nos inscrevermos na Série A ou na Série B para 2015-16. O prazo está a terminar e o clube tem que ter tudo em dia para se inscrever nos campeonatos. Se isso não acontecer, o Parma vai ter de começar do zero, o que seria uma desgraça para todos. Se não houver nenhum interessado na compra do clube e se não conseguirem a inscrição, tem de se começar na última divisão, nos campeonatos amadores.

O Parma está ameaçado de falência?
Sim, o clube pode entrar em administração judicial. Já foram chamados à procuradoria-geral para responder a um pedido de falência feito pelo município de Parma e vão ter de responder no dia 19 de Março. Se, por algum motivo, o clube for declarado insolvente, algumas dívidas são renegociadas. É esse o cenário, estamos dispostos a perder algum dinheiro. Também pode haver a possibilidade de a Liga nos dar uma ajuda, pode ser que nos dê algumas garantias. Nunca será 100% da dívida nem dos valores em atraso. Não vamos receber os 100%, mas podemos receber os 70% ou aquilo que for. O presidente continua a afirmar que tem dinheiro e que vai liquidar as dívidas. Tem até dia 19 de Março para resolver a situação.

O plantel vai tomar uma posição?
Neste momento, cada um é livre de tomar a decisão que quiser. Eu prefiro optar por seguir a linha da equipa, estamos juntos nisto. Mas se mudar de ideias não é um problema. O capitão foi claro nisso. O plano é avançarmos com uma queixa jurídica, que aqui chamam messa in mora. Isto dará ao clube um prazo de 20 dias para pagar os meses em dívida. Se o clube não pagar nós podemos optar pela rescisão colectiva, cada um segue o seu caminho e o clube entra em falência. Mas isto adianta pouco, porque o clube não tem dinheiro. É um pretexto para nos podermos desvincular. Se o clube tiver dinheiro, tem 20 dias para pagar. Ainda não avançámos com essa messa in mora. Reunimos no início da semana com o presidente e ele pediu-nos mais uns dias de paciência. Foi a nossa opção. Continuo a seguir a linha da equipa. Quando decidirmos avançar, avança-se. Mas não adiantará muito.

Como é que a cidade está a viver isto?
Aqui não se fala de outra coisa. Um clube com a grandeza do Parma não ter dinheiro para pagar aos stewards é vergonhoso. Vergonhoso para os adeptos, para a cidade e para todas as pessoas que trabalham no Parma.

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