Alterações climáticas: é isto o que resta dos icebergues

As alterações climáticas e as suas consequências nas regiões polares são o tema central do livro "Melting Away" da fotógrafa Camille Seaman. O livro reúne doze anos de imagens das expedições da autora aos pólos Norte e Sul.

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Melting Away de Camille Seaman

Camille Seaman é fotógrafa e autora de "Melting Away", um livro fotográfico que reúne imagens de doze anos de expedições aos pólos Norte e Sul e que expõe as fragilidades das regiões polares e da sua fauna. Entre 1999 e 2011, Camille fez o que denomina de “viagens bipolares”: passava entre um a três meses no Ártico, entre Maio e Setembro, e três meses na Antártida entre Novembro e Fevereiro. O que observou deixou-a em estado de alerta e desde então o seu principal objectivo é alertar para o flagelo da acção humana sobre o delicado ecossistema terrestre.

 

Em entrevista ao P3, Camille confessou não ter em mente o tema das alterações climáticas aquando do início das suas expedições aos pólos, mas que, no entanto, “no período de dois ou três anos, podiam ver-se saltos consideráveis nas condições climatéricas”: forte desgelo, temperaturas mais amenas, maior precipitação, diferenças nos comportamentos da fauna autóctone.

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Camille Seaman, Melting Away

 

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Camille Seaman, Melting Away

Reacções em cadeia

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Capa do Livro Melting Away de Camille Seaman

Durante a última visita, em Agosto de 2011, notou ter desaparecido uma significativa quantidade de gelo. “Nunca tinha presenciado temperaturas tão altas no Ártico. Muito do gelo tinha desaparecido.” A concentração de ursos polares no território aumentou, dada a diminuição da superfície gelada. “Vi um urso polar, através da minha lente, nadar mais de oito quilómetros até um pequeno pedaço de terra que serve de local de nidificação de diversas aves. (…) Observei-o ir de ninho em ninho e devorar os ovos e as aves recém-nascidas. Em menos de uma hora ele “apagou” uma geração inteira de eider reis, eiders comuns, gaivotas hiperbóreas, gaivotas tridáctilas e tordas-anãs.” Foi então que compreendeu que tudo estava interligado e que um pequeno desequilíbrio pode originar reacções em cadeia imprevisíveis e potencialmente catastróficas. Esse foi, para si, um momento de viragem.

 

Camille Seaman não volta aos pólos desde 2011, justificando que a sua presença pouco iria mudar, e que “iria apenas servir propósitos egoístas.” Substituiu as viagens pelas conferências e é presentemente oradora TED. As suas palestras debruçam-se sobre alterações climáticas e sobre a pegada ecológica. Acredita que é necessário reorganizar a pirâmide de valores. “São os nossos valores, ao fim ao cabo, que estão na origem tudo isto. Neste momento, valorizamos o nosso conforto, gratificação fácil e instantânea, colocamos o materialismo acima da saúde ecológica.”

 

A fotógrafa acredita que as acções humanas trarão consequências irreversíveis, caso não se operem mudanças drásticas ao nível do comportamento dos cidadãos e dos governos e teme um futuro sombrio: “Tu e eu podemos sofrer tempestades épicas e ouvir mais notícias sobre tragédias, mas os nossos filhos e os filhos deles não irão viver num mundo parecido com este. Acho que as pessoas ainda não conseguiram compreender isso. É difícil pensar que o mundo lá fora não terá o mesmo aspecto daqui a cem anos devido às coisas que fazemos agora.”

 

A sua carreira fotográfica descolou com a primeira publicação na revista National Geographic, em 2006. Desde então já viu o seu trabalho na "TIME", no "New York Times", "PDN", "American Photo", entre outras publicações de igual prestígio.

 

Melting Away” foi publicado no dia 13 de Dezembro de 2014 e a primeira edição esgotou antes do Natal. A segunda edição já se encontra à venda e algumas das fotografias que nele constam podem ser vistas nesta galeria.

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