Apenas 13% das vagas de cursos curtos foram preenchidas no primeiro ano

O número de inscritos não atingiu os 400 para 3000 vagas e a maioria das instituições nem chegou a abrir os cursos devido aos atrasos da DGES. Sucesso do Politécnico do Cávado e Ave contraria a tendência.

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Os cursos funcionam exclusivamente no ensino politécnico e têm previsto um estágio Maria João Gala

Os cursos Técnicos Superiores Profissionais (Tesp), as novas formações de dois anos criadas no ensino, estão a ter um arranque difícil. O pouco tempo que existiu entre o anúncio da sua criação e a entrada em funcionamento levou a atrasos na aprovação das propostas apresentadas pelos politécnicos à Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES).

Por isso, muitas instituições optaram por adiar a abertura dos novos cursos e outros ficaram vazios por falta de estudantes interessados. Neste primeiro ano, foram ocupadas pouco mais de 10% das cerca de 3000 vagas disponíveis.

De acordo com a informação recolhida pelo PÚBLICO junto das instituições de ensino superior, há 379 inscritos nos Tesp neste ano lectivo (12,6% dos lugares aprovados pela DGES). Todavia, dos 92 cursos com autorização de funcionamento, apenas 13 (de seis instituições diferentes) estão, de facto, a funcionar e foram capazes de ocupar 79% das respectivas vagas.

Para este resultado em muito contribui o sucesso que os Tesp estão a ter no Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA), onde estão inscritos praticamente metade de todos alunos desta nova modalidade de formação superior. A instituição sediada em Barcelos tinha 182 estudantes, 2 mais do que o número de vagas disponíveis para os três cursos (Apoio à Gestão, Aplicações Móveis e Eletrónica, Automação e Comando) que entraram em funcionamento neste ano lectivo.

Turmas em horário pós-laboral
Face ao nível de procura, os Tesp daquela instituição têm turmas no Campus do IPCA, em Barcelos, e num novo pólo em Braga (edifício da IDITE Minho). “Inicialmente, estava previsto que todos os cursos funcionassem, exclusivamente, em regime diurno. Contudo, houve uma grande manifestação de interesse no pós-laboral, pelo que foi decidido abrir turmas em horário pós-laboral”, explica o presidente do IPCA, João Carvalho.

E, para o próximo ano, o IPCA tem mais oito cursos propostos à espera de aprovação da DGES, que, em função do número de candidatos, podem levar a um novo alargamento da oferta a outros concelhos da região, nomeadamente Guimarães. “A nossa expectativa é que entrem 500 novos alunos em cursos Tesp no próximo ano lectivo”, sublinha o presidente do politécnico de Barcelos.

As restantes instituições têm realidades diferentes que vão desde os sete alunos que a Escola Superior de Tecnologias de Fafe tem inscritos no seu único Tesp (Gestão Hoteleira e Alojamento) e o total de 70 inscritos nos três cursos oferecidos pela Universidade de Aveiro.

Como o PÚBLICO já noticiou, uma parte dos 92 cursos aprovados para entrarem em funcionamento no primeiro ano não iam abrir, face aos atrasos na aprovação da oferta por parte da DGES. Esse número aumentou ao longo dos últimos meses e instituições como, por exemplo, o Instituto Superior de Administração e Gestão, que tinha previsto abrir os seus cursos neste mês de Fevereiro, já só vai fazê-lo no próximo ano lectivo. A justificação utilizada pelas instituições continua a ser a mesma, a “tardia data de aprovação” pela DGES dos cursos, como explica o vice-presidente do Politécnico de Bragança Luís Pais. “Os Tesp foram registados pela DGES em momento muito tardio e, quando foi possível fazer a divulgação, já os alunos e famílias haviam feito a sua opção”, acrescenta Eduardo Cunha Cruz, do Instituto Superior de Educação e Ciências.

Candidaturas sem interessados
Houve também casos de cursos que abriram candidaturas, mas não tiveram um número de alunos interessados que justificasse a sua entrada em funcionamento. Foi assim no Instituto Politécnico de Coimbra, que tinha previsto abrir três dos quatro Tesp aprovados pela DGES, mas nenhum reuniu número de candidatos suficiente para abrir. Também aconteceu o mesmo no Politécnico de Portalegre. “Abrimos candidaturas para o curso de Reabilitação Energética e Conservação de Edifícios, mas não tivemos um número suficiente de candidaturas que justificasse a sua abertura”, justifica o vice-presidente da instituição Albano Silva.

A DGES terá, desta feita, mais tempo para analisar as quase 500 propostas de novos cursos apresentados pelas instituições de ensino superior para o próximo ano lectivo. O prazo de submissão da oferta formativa já terminou até 31 de Dezembro e o organismo tutelado pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC) terá os próximos seis meses para perceber se estes cursos cumprem os preceitos legais necessários para que entrem em funcionamento no próximo ano lectivo.

Os cursos curtos são uma novidade introduzida este ano pelo Ministério da Educação e Ciência no ensino superior e funcionam exclusivamente no ensino politécnico. Estas formações têm a duração de quatro semestres lectivos (dois anos) e conferem uma qualificação de nível 5 do Quadro Nacional de Qualificações, juntando uma componente de formação geral e científica, uma de formação técnica e outra de formação em contexto de trabalho, através de um estágio com uma duração não inferior a um semestre. A nova oferta “visa atender às necessidades de formação expressas pelo mercado de trabalho nas regiões em que são ministrados, tendo uma forte ligação ao tecido empresarial local”, de acordo com a tutela.

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