Volte para a semana, se faz favor

Foto

Os turistas que, por estes dias, andem a passear pelo Porto, apostados em cumprir todos os “imperdíveis” da cidade, proclamados por guias turísticos e assentes em prémios de sites de viagens, vão ficar desapontados. É que o Majestic está fechado. Os proprietários aproveitaram o frio e curto mês de Fevereiro para, segundo anunciaram, avançarem com obras “de manutenção e restauro” no histórico café da cidade e, por enquanto, nem a fachada característica se põe a jeito para, pelo menos, um retrato de recordação. Os andaimes e telas protectoras escondem-na completamente. O regresso à normalidade está anunciado para o dia 23.

Há-de ser um desconsolo, preparar o dia de passeio pensando que se vai tomar um café ou lanchar ao Majestic e, de repente, depararmo-nos com o edifício totalmente oculto pela enorme tela verde que cobre todo o prédio onde está instalado o famoso café, inaugurado a 17 de Dezembro de 1921. Quem já preparara a visita espreitando as fotografias disponíveis e antecipando o momento em que se sentaria na sala cheia de espelhos, candeeiros e frisos trabalhados, no mais belo estilo Arte Nova, vai ficar à beira de fazer beicinho.

É que o Majestic vale mesmo a pena. É um daqueles espaços onde sentimos que o Porto já foi outra cidade, já teve outra história e outras gentes. Nós não estivemos lá para ver como foi, mas, felizmente, o café chegou até hoje para podermos fazer de conta que também fizemos parte desse passado, de requinte importado de Paris, de tertúlias de escritores, de ver entrar pela porta a Beatriz Costa pendurada no braço de Gago Coutinho. Ou melhor, nós não estivemos lá, nos primeiros anos de vida do Majestic (que nasceu Elite mas mudou de nome ao fim de um ano, ansioso por atrair uma clientela mais ecléctica), mas o Manoel de Oliveira esteve. Só mesmo o centenário realizador poderia ter escrito, no livro de honra do café, em 1998, as seguintes frases: “Sempre que venho ao Majestic, é com emoção que me lembro da inauguração do arquitecto Queiroz e da 2.ª inauguração depois da feliz ideia da sua recuperação. Tomar aqui um simples café é recordar imensas cousas de velhos tempos.”

O arquitecto João Queiroz foi o autor do projecto do café, símbolo maior da Belle Époque na cidade. E a 2.ª inauguração de que falava Manoel de Oliveira aconteceu em 1994, quando o Majestic reabriu portas, devolvido ao esplendor original, depois de um período de declínio e de dois anos de encerramento, para obras. Desde aí, a cidade redescobriu o Majestic. Não para que ele se tornasse o café de todos os dias. Há-de sê-lo, de alguns, mas acredito que para a maior parte das pessoas, ele seja o café para as ocasiões especiais, para o hoje-apetecia-me-fazer-uma-loucura, para o ah, que se lixe, hoje gasto mais um pouco mas vou ser atendida por funcionários de farda e receber chocolates ao lado do café. Hoje apetece-me algo especial.

É, pelo menos, assim que o vejo. O Majestic é o café a que iria lanchar pelo menos uma vez se estivesse de visita à cidade. Onde eu estaria disponível para esperar à porta por uma mesa vaga, como me aconteceu em Buenos Aires, quando rumei ao Tortoni (que, nas suas vitrinas dedicadas a chávenas de cafés famosos, lá tinha uma do Majestic e outra d’A Brasileira). É o café para ficar na memória de todos o que o visitaram, muito antes de o mundo ter, de repente, descoberto o Porto e os seus edifícios únicos, incluindo-os, a um ritmo alucinante, nas listas dos “mais bonitos”, “mais cool” ou “mais” sabe-se lá o quê. O Majestic, é claro, lá foi incluído pelo site Cityguides na sua lista dos cafés mais bonitos do mundo. Ele merece e ficamos com pena que, durante este mês de Fevereiro não o tenha podido comprovar. Mas volte para a semana que, se tudo correr bem, ele já estará de portas abertas. Tão bonito como sempre.

Sugerir correcção
Comentar