Novo presidente da Petrobras tem a missão de proteger o Governo

O até agora presidente do Banco do Brasil foi o escolhido para "preservar as instâncias superiores das ondas de choque da crise pela qual passa a maior empresa brasileira".

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Aldemir Bendine é o novo presidente da Petrobras – o anúncio do seu nome provocou uma queda das acções em 7% AFP

A Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, decidiu só anunciar o nome do novo presidente da Petrobras depois do encerramento dos mercados, ao fim da tarde desta sexta-feira. Porém, a notícia de que o escolhido é Aldemir Bendine, que estava à frente do Banco do Brasil, espalhou-se rapidamente e as acções da empresa petrolífera sofreram uma queda significativa de 7%.

A escolha do novo presidente era urgente e um tema sensível para o Governo, que corre cada vez mais riscos de ser sugado para dentro do escândalo de corrupção que envolve a Petrobras, o Partido dos Trabalhadores (PT, de Rousseff) e dezenas de empresas e de políticos. Explicam os analistas brasileiros que o objectivo de Dilma e da sua equipa era encontrar uma pessoa que blindasse a presidência e o Governo da operação Lava Jato, o nome da investigação à rede de corrupção — contratos com a Petrobras e as empresas subsidiárias eram conseguidos através do pagamento de luvas. Na quinta-feira, a polícia federal ouviu o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, suspeito de ter recebido 200 milhões de dólares em nome do partido e 50 milhões de dólares em nome pessoal.

Segundo explica o jornal O Globo, na quinta-feira, Dilma Rousseff desdobrou-se em reuniões com os seus ministros, tendo ganho o sector que defendia que o escolhido não deveria ser um "tecnocrata" — falou-se na possibilidade de ser alguém do sector privado — mas um homem fiel ao PT.

Apesar de o nome de Aldemir Bendine não ser consensual no partido, foi o escolhido para "preservar as instâncias superiores das ondas de choque da crise pela qual passa a maior empresa brasileira", explicava o jornal Folha de São Paulo, que também dizia que o novo presidente, que já era um homem muito próximo de Lula da Silva, é "um cumpridor de ordens da confiança da Presidente".

A Folha, porém, punha em causa o sucesso da missão de blindagem de Bendine, "dada a intensidade do tremor vindo das apurações lideradas pela Justiça Federal, Polícia Federal e Ministério Público Federal". A operação Lava Jato está a ouvir cada vez mais pessoas — até ao fim do mês, deverá convocar deputados e responsáveis de mais de 20 empresas — e, até aqui, tem sustentado os passos que dá nas denúncias que algumas das peças-chave da engrenagem de corrupção estão a fazer a troco de imunidade ou redução nas acusações.

Os analistas dizem que Aldemir Bendine tem, em primeiro lugar, que impor a sua própria liderança, uma vez que também ele está desgastado. Aos 51 anos, fez toda a sua carreira no Banco do Brasil, a cuja chefia chegou por nomeação de Lula da Silva. Mas, no ano passado, esteve envolvido em muitas polémicas. Foi acusado publicamente de ter favorecido uma socialite, concedendo-lhe empréstimos através do Banco do Brasil, e foi investigado por fraude fiscal e enriquecimento ilícito (recebeu montantes de dinheiro muito avultados cuja origem não conseguiu explicar); um seu ex-motorista disse, quando interrogado pela polícia, que fez pagamentos em dinheiro vivo a mando de Bendine. Os casos resolveram-se com o pagamento de multas.

A queda das acções da Petrobras reflecte todas as desconfianças que o nome de Bendine provoca e também a percepção de que é um agente político que faz parte da elite que provocou a grave crise que a Petrobras atravessa.

Aldemir Bendine, ficou estipulado, terá liberdade para escolher os seus directores — toda a equipa anterior, liderada por Graça Foster, foi demitida na quarta-feira —, menos um. O director financeiro, e por decisão de Rousseff e dos ministros, será Ivan Monteiro, que era vice-presidente de Finanças do Banco do Brasil.

Monteiro tem nas mãos a sobrevivência da própria Petrobras. Se Bendine tem como primeira missão a sobrevivência política de Dilm e do Governo, a prioridade de Monteiro é a sobrevivência da Petrobras. Terá que responder à exigência de realização de uma auditoria independente às contas da empresa com o lançamento das perdas decorrentes da corrupção. Sem essa fiscalização às contas, a empresa corre o risco de perder ainda mais valor, credibilidade e financiamentos. A agência de rating Moody’s deu 30 dias à empresa para publicar as contas. Já a Fitch, na terça-feira, baixou a nota da Petrobras de "BBB" para "BBB-" e em perspectiva negativa; a estatal brasileira está apenas um nível acima do que os mercados definem como lixo financeiro.

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