Sociedade de Medicina Interna reclama plano nacional para a hepatite C

Especialistas dizem que, em cinco anos, seria possível garantir cura de mais de 90% dos doentes com o que se gasta num ano com tratamento de VIH

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PÚBLICO/Arquivo

“É urgente e obrigatório estabelecer um plano nacional para a hepatite C” para “pôr fim às decisões individuais de cada hospital”, defendem os responsáveis pelo Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), em nota divulgada esta quarta-feira. Os especialistas pedem ao ministro da Saúde e aos laboratórios farmacêuticos que “sejam razoáveis e coloquem acima de tudo o interesse dos doentes nas discussões que decorrem para negociar o custo dos novos tratamentos para a hepatite C”.

Os especialistas em doenças do fígado da SPMI calculam mesmo que seria possível “assegurar a cura de mais de 90 por cento dos doentes com hepatite C, em cinco anos, com menos do que se gasta num ano com o tratamento da infecção VIH (mais de 220 milhões de euros) ”.

O novos fármacos para o tratamento da hepatite C “apresentam custo-efectividade dentro dos parâmetros até aqui aceites” e permitem “obter a cura em mais de 90 por cento dos doentes, com terapêutica oral, sem interferão e quase sem efeitos adversos”. Mas é “desejável e possível” conseguir “preços mais baixos”, reconhecem.  

As negociações entre a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) e o fármaco que tem despertado a polémica, o sofosbuvir, comercializado pelo laboratório Gilead, começaram há vários meses, mas têm-se arrastado sem sucesso. No fim-de-semana passado, foi anunciado que Portugal é um dos seis países que integra um consórcio que pretende negociar em conjunto a redução do custo do sofosbuvir  -  que tem um preço mínimo de 43 mil euros por tratamento (12 semanas) na Europa.

Alguns países chegaram entretanto a acordo com o laboratório Gilead para a redução dos preços para, como Espanha (cerca de 25 mil euros), mas o valor continua a ser demasiado elevado para tratar todos os doentes diagnosticados e apenas os casos em situação mais grave estarão a receber o tratamento.

Portugal decidiu assim juntar-se a Espanha, a França, Itália, Irlanda e Grécia, segundo adiantou o Infarmed. No fim-de-semana passado, em Guimarães, o presidente da Autoridade do Medicamento, Eurico Castro Alves, reconheceu, citado pelo Jornal de Notícias, que as negociações com o laboratório que comercializa o fármaco “não estão a correr bem” e admitiu que a solução pode passar pela união dos países reunidos no consórcio que, juntos, estimam ter uma população de perto de nove milhões de infectados com hepatite C. 

Eurico Alves garantiu então que o Governo português tem “muita pressa” em resolver esta questão, mas avisou os “especuladores” que se “desiludam” porque se pretende tratar “todos” os doentes. “Só não sabemos como”, admitiu. As negociações com o laboratório estão a ser feitas com cada um dos seis países, que decidiram revelar uns aos outros o preço negociado.

Esta segunda-feira,  foi realizada em Lisboa mais uma reunião para continuação do processo negocial entre o Infarmed e a Gilead, mas os responsáveis da Autoridade do Medicamento escusaram-se a adiantar detalhes, alegando que “as propostas e valores em negociação são confidenciais”.

A hepatite C é uma doença crónica que evolui para cirrose hepática em mais de 20% dos casos e, destes, 1 a 2% por ano desenvolverão carcinoma hepatocelular.

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