Clínica ao lado de hipermercado da Auchan fechou portas

Loja era explorada por uma empresa parceira da cadeia de distribuição e prestava cuidados de saúde sem marcação.

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Parceria com a Saúde 3.0 complementava oferta na área da saúde que o Jumbo já oferece Enric Vives Rubio

A Clínica do Centro que, desde Julho, atendia doentes sem marcação ao lado de um hipermercado Jumbo, do grupo Auchan, encerrou portas. O projecto era uma parceria entre o grupo Auchan e empresa Saúde 3.0 e estava em fase de testes no mercado. Funcionava num espaço cedido pela cadeia de distribuição francesa, para quem este era um “conceito inovador” que teria de ser avaliado.

Fonte da empresa não adiantou os motivos do encerramento, remetendo explicações para os responsáveis da Saúde 3.0. “Tínhamos um espaço cedido a uma entidade externa especializada onde estava a funcionar um serviço que apostava na proximidade e na facilidade de acesso da população a profissionais de saúde qualificados. Após o lançamento deste conceito em Julho passado, os responsáveis deste serviço informaram-nos que iam encerrar”, afirmou. O PÚBLICO contactou a Saúde 3.0 mas não foi possível obter mais esclarecimentos.

Os donos do Jumbo estavam desde Julho a testar o conceito junto do hipermercado de Almada, onde um enfermeiro atendia doentes sem marcação entre as 10h e as 24h, a um custo de 30 euros. O contacto com o médico era feito através de sistemas de telemedicina ou videoconferência. “O enfermeiro faz a colheita de sinais e sintomas, o médico faz o diagnóstico e a proposta de tratamento, e o doente beneficia de um serviço de saúde de qualidade, rápido e acessível”, detalhou, em Agosto passado, fonte oficial do grupo Auchan.

Nessa altura, o grupo justificou a aposta neste negócio com o facto de ser uma “oferta bastante comum, disponibilizada pelo retalho nos Estados Unidos e na Escandinávia”. “Esta parceria [com a Saúde 3.0] surge na sequência da oferta de saúde (Espaços de Saúde e Bem-Estar e Ópticas) que apresentamos aos nossos clientes, sempre submetida ao princípio da melhor qualidade ao melhor preço”, disse a mesma fonte, em respostas enviadas por e-mail.

A Ordem dos Médicos chegou a pedir esclarecimentos à Entidade Reguladora da Saúde e à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo sobre o projecto da Clínica do Centro mas, até ao momento não teve resposta, adianta Miguel Guimarães, presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos.

“Este era um processo ‘inusitado’. Desde logo, porque tínhamos um enfermeiro a prestar actos médicos, como o exame clínico de um doente, além de colocar um recurso complementar, como a telemedicina, a servir como primeira linha de diagnóstico, sem possibilidade de intervenção terapêutica ou emissão de receituário”, defende.

Questionado sobre a diferença entre este projecto e as clínicas privadas que funcionam em centros comerciais com horário alargado, Miguel Guimarães sublinha que a Clínica do Centro tinha apenas “um enfermeiro que fazia a triagem e servia de elo de ligação com o médico que iria ‘atender’ o doente por videoconferência”, o que não se passa noutros modelos de negócio.

Em 2012, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos, dona do grupo Jerónimo Martins (que detém o Pingo Doce), também investiu numa rede de clínicas que oferecem além de clínica geral, saúde oral, nutrição ou podologia. As Walk’in Clinics estão abertas sete dias por semana das 10h às 22h, mas desde que o projecto foi conhecido só abriram cinco unidades (Telheiras, Sintra, Santa Maria da Feira, Aveiro e Praça de Alvalade).

A Sonae (proprietária do PÚBLICO) lançou a Wells que se descreve como uma loja “especialista de saúde, bem-estar e óptica”. As 150 unidades estão localizadas maioritariamente junto aos hipermercados Continente e Continente Modelo.

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