Ibibio Sound Machine, Orlando Julius e Del Sosimi anunciados para Sines

Uma África com epicentro na Nigéria e ligações a Londres, com um ouvido encostado à tradição e o outro sintonizado nos sons contemporâneos, que estamos a falar.

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O grupo Ibibio Sound Machine, fundado em Londres e liderado por Eno Williams, de ascendência nigeriana, é uma das mais curiosas súmulas estilísticas carimbadas com o selo da Soundway Records
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Orlando Julius é um saxofonista e cantor cuja influência é comummente aceite como essencial na invenção do afrobeat por Fela Kuti

É do inesgotável baú da música africana que chegam as primeiras confirmações da 17ª edição do Festival Músicas do Mundo (FMM), a decorrer em Sines e Porto Covo entre 17 e 25 de Julho.

Mas é de uma África com epicentro na Nigéria e ligações a Londres, com um ouvido encostado à tradição e o outro perfeitamente sintonizado nos sons contemporâneos (com origem no léxico da música negra dita urbana), que estamos a falar. Daí que nos chegue do FMM a boa-nova das actuações em Sines de Ibibio Sound Machine, Orlando Julius and the Heliocentrics e Dele Sosimi Afrobeat Orchestra, assim como Toumani & Sidiki Diabaté e Vaudou Game.

O grupo Ibibio Sound Machine, fundado em Londres e liderado por Eno Williams, de ascendência nigeriana, é uma das mais curiosas súmulas estilísticas carimbadas com o selo da Soundway Records (onde pontificam igualmente os luso-angolanos Batida). Aquilo que Williams faz aos comandos da máquina musical Ibibio é uma rememoração das histórias tradicionais nigerianas que ouviu à família enquanto criança, enxertando-as num contexto que cruza várias músicas especialmente propensas aos ambientes festivos, do highlife africano ao disco sound nova-iorquino e a uma apropriação inglesa contemporânea de funk e soul. Ao vivo, têm fama de ser não menos do que incendiários.

Vindo também da Nigéria e com passagem por Londres, Orlando Julius é um saxofonista e cantor cuja influência é comummente aceite como essencial na invenção do afrobeat por Fela Kuti. Ao lado dos londrinos Heliocentrics – os mesmos que gravaram com o etíope Mulatu Astatke o espantoso Inspiration Information, Vol. 3 –, Julius lançou no ano passado Jaiyede Afro, mais uma prova da permeabilidade da sua sonoridade às linguagens soul e r&b que vem desenvolvendo desde a década de 60, quando lançou o clássico Super Afro Soul. Na pista do afrobeat, o festival receberá ainda a visita de um outro nigeriano com ligação à capital britânica – onde nasceu. Dele Sosimi tocou teclados nos históricos Egypt 80 de Fela Kuti, tendo depois transitado para os Positive Force de Femi Kuti. Só mais tarde fundou a sua Afrobeat Orchestra, com a qual regressa ao FMM, onde já havia estado em 2009.

A primeira vaga de confirmações completa-se com o excêntrico Vaudou Game e a dupla Toumani & Sidiki Diabaté (que hoje, curiosamente, se apresenta na Culturgest, em Lisboa). Se Toumani, um dos mais notáveis e reconhecidos intérpretes da música maliana, tocará em duo de koras com o seu filho mais velho (também produtor de hip-hop e cujo sonho é gravar com Jay-Z), o extravagante Peter Solo (líder dos Vaudou Game) partilhará a sua releitura da tradição vaudou, comum aos territórios do Togo e do Benim, assinada em conjunto com um grupo de músicos franceses. Apesar das origens ritualísticas da música no seu contexto original, o que Solo assina é antes a transformação desta linguagem por um amor desmedido pelo funk de James Brown e Sly Stone.

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