Estado Islâmico anuncia ter queimado vivo piloto jordano

Jihadistas divulgam vídeo com o que dizem ser o momento da morte de Moaz al-Kasasbeh. Fontes jordanas dizem que poderão executar bombista iraquiana detida na Jordânia "nas próximas horas".

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Familiares de Muath al-Kasaesbeh seguram retratos do piloto jordano durante um protesto nesta terça-feira em Amã REUTERS/Muhammad Hamed

Os jihadistas do Estado Islâmico nunca produziram a prova de vida exigida pela Jordânia no âmbito das negociações para a libertação do tenente Moaz al-Kasasbeh, mas documentaram a morte do piloto de 26 anos, que foi queimado vivo no interior de uma jaula.

As imagens do assassínio, que primeiro foram divulgadas na conta do Twitter associada à organização terrorista e pouco depois foram integralmente publicadas num vídeo de 22 minutos na página de Internet mantida pelo Estado Islâmico (EI), ainda não foram oficialmente autenticadas, mas também não foram desmentidas.

“As Forças Armadas da Jordânia anunciam a morte do heróico piloto Moaz al-Kasasbeh, que caiu como um mártir. Choramos a sua morte e prometemos que o seu sangue não foi derramado em vão. O nosso castigo e vingança serão ainda maiores do que a dor que agora sentem todos os jordanos”, prometeu o porta-voz do Exército jordano, Mamdouh al-Ameri, numa declaração lida em directo na televisão – enquanto um rodapé informava que “o martírio” do piloto tinha acontecido no dia 3 de Janeiro.

Numa primeira reacção à divulgação do vídeo, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o crime só “redobra os esforços e a determinação da coligação global para desintegrar e destruir o Estado Islâmico”. “Se o vídeo é real, é mais uma prova da crueldade e barbaridade desta organização”, sublinhou.

O militar jordano foi capturado a 24 de Dezembro, depois de o seu jacto F-16 se ter despenhado perto da cidade de Raqqa, na Síria. Moaz al-Kasasbeh participava na missão aérea internacional contra os militantes islamistas, que é liderada pela Força Aérea dos Estados Unidos. Aliás, o piloto foi o primeiro (e até agora único) refém do Estado Islâmico que estava activamente envolvido na campanha militar para a sua expulsão do território tomado na Síria e no Iraque.

Ao contrário do que sucedeu com outros dos seus reféns, os jihadistas nunca mostraram o piloto jordano em vídeos ameaçadores (embora tenha divulgado fotografias em que al-Kasasbeh aparecia em poses humilhantes, despido da cintura para baixo). Vários especialistas em questões de segurança e terrorismo distinguiram o piloto jordano dos restantes reféns ocidentais sequestrados pelo Estado Islâmico, pelo seu “valor” simbólico e estratégico: al-Kasasbeh era simultaneamente um muçulmano sunita e um combatente de um país inimigo.

O piloto e a bombista

A libertação do piloto estava a ser discretamente negociada, por intermédio de líderes religiosos tribais do Iraque mandatados pelo Governo de Amã para conversar com os extremistas, desde a sua captura. Essas negociações tornaram-se públicas quando a entrega de Moaz al-Kasasbeh foi usada como moeda de troca para a libertação de uma bombista iraquiana detida na Jordânia, e condenada à pena de morte pelo envolvimento num ataque num hotel de Amã que fez 60 mortos em 2005.

Agora, fontes da segurança jordanas citadas pela agência Reuters dizem que a execução desta bombista deverá ser levada a cabo "nas próximas horas" ou na quarta-feira de manhã.

Além do piloto, os militantes deveriam entregar um outro refém, o jornalista japonês Kenji Goto, capturado na Síria em Outubro. Goto era um de dois japoneses sequestrados pelo EI na Síria: os islamistas fizeram dois ultimatos ao Governo de Tóquio, que se recusou cumprir as exigências apresentadas para a sua libertação. Haruna Yukawa foi decapitado depois do Japão se negar ao pagamento de um resgate de 200 milhões de dólares, e Kenji Goto sofreu o mesmo destino no sábado.

Nesse dia, o Governo da Jordânia confirmou a sua disponibilidade para avançar com a troca de prisioneiros, mas exigiu que o EI lhe fizesse uma prova de vida do piloto antes de pôr em marcha o processo de libertação da iraquiana presa em Amã. Esse passo nunca foi cumprido, levando à especulação de que o piloto já estava morto. Para já, o Exército jordano não avançou qualquer explicação quanto à data da morte: se já sabia ou se só teve conhecimento depois da divulgação do vídeo.

O rei Abdullah da Jordânia – que interrompeu uma visita aos Estados Unidos –, esteve pessoalmente envolvido na campanha pela libertação de Moaz al-Kasasbeh, que pertencia a uma família de oito filhos da tribo Bararsheh, aliada política do Governo e muito influente na região sul do país, que é predominantemente sunita.

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