Strauss-Kahn começa a ser julgado por proxenetismo

O ex-dirigente do FMI é acusado de ser o principal beneficiário e instigador de festas com prostitutas. Pode ser condenado a dez anos de prisão.

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Strauss-Kahn diz nunca ter sabido que estava com profissionais do sexo remuneradas Emmanuel Dunand/AFP

O antigo director do Fundo Monetário Internacional e ex-favorito dos socialistas franceses para candidato às presidenciais de 2012, Dominique Strauss-Kahn, começou nesta segunda-feira a ser julgado por “proxenetismo agravado em reunião”, naquilo que a defesa descreve como “soirées libertinas” e a acusação chama "orgias com prostitutas".

Strauss-Kahn esteve presente na abertura do processo num tribunal de Lille, apesar de o seu testemunho só estar previsto na próxima semana. Na primeira sessão, o tribunal rejeitou um pedido do advogado de antigas prostitutas que vão ser ouvidas como testemunhas para que o julgamento decorresse à porta fechada.

Acusado de ser o principal beneficiário e instigador de festas com prostitutas, DSK, como é conhecido, garante que pensou sempre que estava a participar em “noitadas libertinas” sem saber que estava com profissionais do sexo remuneradas. Se for condenado, enfrenta uma pena de prisão até dez anos.

O processo conhecido como "Carlton" começou a tornar-se público mais ou menos ao mesmo tempo que rebentava o escândalo de Nova Iorque, quando o então patrão do FMI foi detido, acusado de violar uma empregada do Hotel Sofitel. Esse caso, em 2012, acabou arquivado, depois de a acusadora, Nafissatou Diallo, ter chegado a um acordo confidencial com o francês.

A investigação que deu origem ao processo de Lille começou pelo menos no ano anterior, mas demorou algum tempo até que o nome de DSK surgisse nas escutas. Seguindo informações anónimas, a polícia começou a monitorizar quem frequentava os hotéis Carlton e Tours de Lille, onde o relações públicas René Kojfer arranjaria prostitutas para alguns clientes.

Nas escutas ao telemóvel de Kojfer acabou por surgir o nome de Strauss-Kahn. O mesmo aconteceu com os nomes dos empresários David Roquet e Fabrice Paszkowski, parte de um círculo com que Strauss-Kahn gostava de se divertir, ao qual se junta o polícia Jean-Christophe Lagarde.

De acordo com a acusação, os quatro encontraram-se em muitas noitadas – em Lille, mas também em Paris e até em Washington, onde terão organizado três viagens quando Strauss-Kahn ainda dirigia o FMI (uma dessas festas terá acontecido dois dias antes da prisão por causa da acusação de Nafissatou Diallo).

Aos 65 anos, Strauss-Kahn é acusado num processo com 14 réus. A posição da defesa na fase de instrução mantém-se intocável: o ex-político gostava de festas, mas ignorava que se tinha envolvido com prostitutas.

Os juízes de instrução do processo acreditam que ele não podia ignorar que as mulheres eram prostitutas e concluíram que estas festas eram organizadas especialmente para Strauss-Kahn, “o rei da festa”. “É realmente divertido acreditar na sua ingenuidade”, respondeu “Jade” uma das prostitutas ouvida no inquérito, citada por uma fonte judicial.

Segundo uma reportagem que a televisão Canal + vai exibir nesta segunda-feira, citada pela imprensa francesa, o caso envolveu escutas administrativas autorizadas pelo gabinete do primeiro-ministro francês (durante a presidência de Nicolas Sarkozy) entre Junho de 2010 e Fevereiro de 2011. Oficialmente, a investigação só foi aberta a 2 de Fevereiro de 2011.

Tal como aconteceu com o caso do Sofitel, vai voltar a ouvir falar-se de complot: a tese dos advogados de alguns dos réus será a da conspiração contra Strauss-Kahn. “O proxenetismo é uma construção jurídica para encurralar DSK”, disse ao Libération Karl Vandamme, que defende Fabrice Paszkowski, suposto co-organizador das festas. “Por causa da personalidade de um dos acusados, o caso foi insuflado, nunca teria chegado até aqui [de outra forma]”, diz Hubert Delarue, o advogado de René Kojfer.

Na instrução, o Ministério Público pediu que o caso fosse arquivado, mas os juízes decidiram acusar Strauss-Kahn com base numa definição mais lata de proxenetismo, que vai além do sentido comum de beneficiar financeiramente da prostituição de outra pessoa. Eric Dupond-Moretti, advogado de David Roquet, declarou ao Libération: “Homens que chamam prostitutas a sua casa que acabam por ter relações sexuais com amigos... Isso acontece o tempo todo e nunca ninguém foi acusado de proxenetismo por isso.” 

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