Reiser, o maior

Há vergonhas que são mais deprimentes do que melancólicas. Seguindo, por causa da Charlie Hebdo o Festival da Banda Desenhada de Angoulême, ici no PÚBLICO et ailleurs, fui à procura do autor de bamda desenhada que mais admiro neste mundo, por ser tão graficamente expressivo, hilariante, livre e sincero: Reiser.

Deixei de lê-lo, por causa dos meus estudos na Inglaterra, de 1975 a 1983. Antes de 1975 tinha todos os livros dele - e quase todas as revistas em que tinha colaborado.

A verdade é que nunca mais pensei nele. Até agora. Indo à procura de tudo o que ele desenhou e escreveu entre 1975 e agora encontrei a miserável notícia que morreu, com 42 anos, morto por um cancro dos ossos em 1983.

Há 35 anos que está morto sem eu saber: a culpa é toda minha. Fui logo ler vinte e tal livros dele que li quando eu tinha menos de 25 anos de idade.

Saíu-se mal Reiser entre os que continuaram a viver, comparados com ele. Mas para quem o relê 35 anos depois sai-se muitíssimo bem.

O traço de Reiser era rápido, expressivo e contundente. Os personagens dele, femininos ou masculinos, são viciantes, por muito aprazíveis ou desagradáveis que sejam.

No fundo, o que prevalece é a desinibição. Reiser fazia tudo - desenhava e escrevia - para nos fazer rir. E conseguia. E consegue ainda.

Para mim são os desenhos de Reiser - rápidos e espontâneos, para não dizer abençoadamente preguiçosos - que iluminam o caos alegremente grosseiro da humanidade. Ainda.

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