A minha experiência com a prova

Não achei a prova fácil. Nalguns aspectos, requer apenas coisas como “raciocínio lógico e crítico” e “preparação para resolver problemas em domínios não-disciplinares", como argumentam os organizadores da prova. Mas estes necessários talentos não me parecem ser suficientes para passar.

Eram 11h25 da manhã de quinta-feira quando comecei a responder às 32 perguntas da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC), na sua versão de Dezembro de 2014.

Fi-lo no meio da redacção do PÚBLICO de Lisboa, em condições provavelmente menos do que ideais. Mas como os jornalistas estão habituados a trabalhar no meio do barulho e da confusão, não irei por isso justificar assim os erros que cometi nas respostas.

Demorei pouco mais de uma hora, fazendo os possíveis para não perder tempo – embora tenha precisado, por várias vezes, de recomeçar o meu raciocínio do zero.

Uma das perguntas que originaram uma elevada percentagem de respostas erradas por parte dos professores que fizeram a prova (o “item” 6, que teve uma taxa de erro de quase 80%) era sobre futebolistas suplentes e efectivos. No meu caso, essa questão ficou rapidamente resolvida graças à fórmula matemática que descreve o número de combinações de um grupo de P pessoas escolhidas entre um total de N pessoas. Mas concedo que, sem ela, talvez não tivesse chegado à resposta tão depressa ou sequer percebido a pergunta.

Um segundo item muito problemático, o 32, teve uma taxa de respostas erradas de quase 74%. Tem a ver com um gráfico que mostra, por um lado, a distribuição das notas médias, no Exame de Português de 2012, de várias regiões de Portugal relativamente à nota média nacional; e, por outro, compara esse “desempenho” regional de 2012 com o de 2009.

Aqui, confesso que achei que não ia conseguir responder em tempo útil. Porém, com calma, lendo atentamente as legendas do gráfico, acabei por perceber do que se tratava e acertar na resposta. A minha prática deste tipo de representação visual salvou-me.

A terceira instância em que os professores mais erraram (com uma taxa de erro de perto de 70%) foi o item 14. Diz respeito a um texto sobre o carácter utilitário dos livros versus o seu valor enquanto “obra de arte literária” – e nele falava-se de um tipógrafo. Não me correu bem: o argumento que utilizei para autojustificar a minha resposta (errada) aparentemente falhou o alvo. E também me fez lembrar alguns trabalhos para casa dos meus filhos com perguntas igualmente obscuras...

Resultado global: enganei-me seis vezes em 32 perguntas – o que me confere, com 81% de respostas certas, uns honrosos 65 pontos dos 80 que vale esta parte da prova. (E ainda bem, porque não sei se teria tido coragem para escrever aqui publicamente que tinha chumbado a prova ou obtido uma nota medíocre!)

Não fiz a segunda parte, que vale 20 pontos e consiste em escrever um texto – faço isso todos os dias por razões profissionais e dispensei. Mas acho que, dada a minha profissão, não me teria corrido mal. Contudo, poderia ter dado uma valente série de erros ortográficos, visto não ter “aprendido” a escrever sob a alçada do novo acordo ortográfico e de não o utilizar no meu dia-a-dia.

Uma coisa é certa: não me considero representativa dos 2490 professores que se apresentaram à prova em finais do ano passado. Já não sou jovem, sou formada em Matemática e tenho uma extensa experiência da escrita jornalística sobre temas definidos à partida e com tamanhos predeterminados.

Mesmo assim, não achei a prova fácil. Nalguns aspectos, é semelhante a um teste de Quociente de Inteligência, o que (em princípio) requer apenas coisas como “raciocínio lógico e crítico”, “preparação para resolver problemas em domínios não-disciplinares" e “capacidade para consultar e interpretar informação disponibilizada em diferentes suportes”, como argumentam os organizadores da prova. Mas estes necessários talentos não me parecem ser suficientes para passar.

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