Grécia bate o pé, mas União Europeia mantém-se firme nas sanções contra a Rússia

Novo Governo de Atenas foi acusado de pôr em causa a unidade dos 28, mas acabou por ser elogiado pela sua "atitude construtiva".

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O novo ministro dos Negócios Estrangeiros grego, Nikos Kotzias EMMANUEL DUNAND/AFP

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) aprovaram na quinta-feira o prolongamento até Setembro das sanções aplicadas à Rússia por causa da guerra na Ucrânia, mas a posição do Governo grego pôs em causa a frente unida dos 28 contra Moscovo.

A reunião foi convocada no domingo pela alta representante da UE para a Política Externa, a italiana Federica Mogherini, um dia depois de um ataque com rockets contra a cidade ucraniana de Mariupol que fez pelo menos 30 mortos entre a população civil.

Mas as conversas entre os 28 azedaram na quarta-feira, quando a agência Reuters divulgou uma primeira versão daquele que viria a ser o comunicado final da reunião extraordinária.

No documento — elaborado antes das conversas oficiais entre os ministros dos Negócios Estrangeiros — lia-se que os 28 países-membros concordam com a extensão das sanções aplicadas à Rússia por pelo menos mais seis meses; comprometem-se a incluir mais nomes na lista de pessoas cujos bens e contas em países da UE estão congelados; e aceitam discutir novas medidas, que poderão ser anunciadas na próxima cimeira dos chefes de Estado e de Governo, no dia 12 de Fevereiro.

"Uma questão de respeito"
Numa primeira reacção, o novo ministro dos Negócios Estrangeiros grego, Nikos Kotzias, disse que não iria fazer comentários antes de discutir o assunto com os colegas da UE e informou o seu Governo de que já existia um documento escrito que comprometia a Grécia com um reforço das sanções aplicadas à Rússia.

Esta atitude foi vista como hostil em Bruxelas, já alertada na quarta-feira pelas declarações do ministro da Energia grego, Panagiotis Lafazanis, que afirmou que o seu Governo não concorda com as sanções. "Não temos quaisquer problemas nem com a Rússia, nem com o povo russo", disse Lafazanis à agência grega ANA.

Uma das críticas à posição grega partiu do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, que se reuniu quinta-feira em Atenas com o primeiro-ministro Alexis Tsipras. "Não é possível, por um lado, exigir que a Europa demonstre solidariedade para com o seu próprio país, e por outro lado, dividir a posição comum da União Europeia logo no primeiro passo oficial", disse Schulz à televisão alemã ZDF.

Perante estas críticas, o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, esclareceu que o seu colega dos Negócios Estrangeiros estava apenas a queixar-se de ter sido envolvido numa decisão sem ter sido consultado e que isso não significava que o seu Governo estava a preparar-se para vetar um reforço das sanções. "O problema é que ninguém lhe perguntou nada; nem a ele, nem ao Governo grego", escreveu Varoufakis no seu blogue, num texto intitulado "Uma questão de respeito (ou de falta dela...) – o veto da Grécia que nunca existiu".

"Por isso, a questão não é se o nosso novo Governo concorda ou não concorda com a aplicação de novas sanções à Rússia. A questão é se o nosso ponto de vista pode ser entendido como um dado adquirido ainda antes de o conhecerem", argumentou Yanis Varoufakis.

A julgar pelas declarações feitas por Federica Mogherini após a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros, os gregos conseguiram afirmar as suas posições, mas sem partir a loiça. "Tivémos uma boa e longa discussão", afirmou a alta representante da UE para a Política Externa. Se foi "mais emotiva" do que outras reuniões, como lhe perguntou um jornalista na conferência de imprensa, a responsável não esclareceu.

Mas Mogherini sublinhou o comportamento positivo grego: "Mantiveram as suas posições, mas com uma atitude muito construtiva, que nos permitiu tomar decisões unânimes. E a unidade europeia é o que nos dá força."

Conversações em Minsk
Foi essa força que permitiu a Mogherini convocar a reunião extraordinária após o ataque contra Mariupol, o mais grave dos últimos cinco meses, e cuja autoria a missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) atribui aos separatistas ucranianos. De acordo com o relatório da OSCE, os rockets foram lançados a partir de áreas controladas pela autoproclamada República Popular de Donetsk.

A mesma posição é assumida também pela generalidade dos líderes europeus e pelos Estados Unidos. "Junto-me aos meus homólogos europeus na forte condenação ao terrível ataque contra bairros civis por parte dos separatistas apoiados pela Rússia", declarou o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

Na segunda-feira, o representante permanente da Rússia na OSCE, Andrei Kelin, disse que o relatório dos observadores internacionais "não inspira confiança" e que os EUA e o Canadá estão a usar o ataque contra Mariupol para "justificarem o reforço das sanções" contra Moscovo, ou "para manterem os seus parceiros europeus pela coleira".

"Não houve nenhuma investigação, limitaram-se a examinar o território sem instrumentos. Levando em conta que há vários testemunhos contraditórios, as conclusões [da missão da OSCE] não inspiram confiança", disse o representante russo.

Para esta sexta-feira estão marcadas novas conversações de paz em Minsk, capital da Bielorússia, com a presença de representantes da Ucrânia, da Rússia, dos rebeldes pró-russos e da OSCE, para se tentar negociar uma trégua.

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