Morreu a autora do best-seller Pássaros Feridos

Colleen McCullough publicou mais de vinte romances, mas nenhum teve o sucesso de Pássaros Feridos (1977), que vendeu mais de 30 milhões de exemplares e deu origem a uma conhecida mini-série televisiva.

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Colleen McCullough, fotografada em 2008, durante um lançamento em Sydney Bob King/Corbis

A escritora australiana Colleen McCullough, autora do best seller Pássaros Feridos (The Torn Birds, 1977), morreu esta quinta-feira, aos 77 anos, no hospital da ilha australiana de Norfolk, onde vivia com o seu marido Ric Robertson. Uma responsável da editora HarperCollins, Shona Martyn, confirmou a morte de McCullough, dizendo que a autora sofria nos últimos anos de graves problemas de saúde – sobreviveu a um cancro, estava quase cega, e tinha osteoporose, diabetes e uma artite incapacitante –, mas que não se deixava abater e continuava a trabalhar, ditando os seus livros.

A sua última obra, Bittersweet (Agridoce, na edição portuguesa da Bertrand), foi publicada em 2013, depois de A Independência de Uma Mulher (The Independence of Miss Mary Bennet, 2008), uma continuação do romance Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, ter recebido críticas bastante desiguais. Os fãs de Jane Austen não gostaram muito de a ver transformar Elizabeth Bennet numa esposa fraca e submissa e Darcy num selvagem brutal. Um atrevimento mais desculpável, ainda assim, do que prolongar o sofisticadíssimo Orgulho e Preconceito num livro de aventuras mais ou menos inverosímeis.

Colleen McCullough publicou mais de duas dezenas de títulos, incluindo uma série de romances passados na Roma Antiga e um conjunto de policiais protagonizado pelo capitão de polícia Carmine Delmonico. Mas nenhum dos seus títulos se aproximou do sucesso internacional obtido pelo seu segundo romance, Pássaros Feridos, uma saga familiar no cenário inóspito do interior australiano, e também a história da paixão proibida entre uma jovem mulher e um padre, que vendeu mais de 30 milhões de exemplares.

Pássaros Feridos deu ainda origem a duas mini-séries televisivas, a primeira das quais, realizada em 1983 por Daryl Duke e interpretada por um elenco de estrelas – Richard Chamberlain, Rachel Ward, Barbara Stanwyck, Christopher Plummer e Jean Simmons, entre outros –, tornou-se a segunda série mais vista nos Estados Unidos logo a seguir a Raízes (Roots).

Colleen McCullough nasceu em 1937 em Wellington, na Nova Zelândia, e tinha ascendência maori por parte da mãe. Os pais viveram em diversos locais até finalmente se fixarem em Sidney, na Austrália, onde a filha frequentou o Holy Cross College e depois a Universidade de Sidney, onde estudou Medicina, ao mesmo tempo que ia ganhando a vida como professora, bibliotecária e jornalista.

Logo no primeiro ano do curso sofreu uma dermatite provocada pelo sabão antisséptico e desistiu de se tornar cirurgiã, tendo-se dedicado à investigação em neurociência. Trabalhou em hospitais australianos e ingleses, até ser convidada para o departamento de neurologia da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, onde investigou e ensinou durante uma década, de 1967 a 1976.

Foi em Yale que escreveu os seus dois primeiros livros, Tim (1974) e Pássaros Feridos. O seu romance de estreia foi adaptado ao cinema em 1979, já depois do sucesso de Pássaros Feridos, no filme Anjos de Aço, de Michael Pate, com Piper Laurie e Mel Gibson nos papéis principais. Em 1996, Glenn Jordan realizou um telefilme igualmente baseado no livro, Mary & Tim, com Candice Bergen e Thomas McCarthy. 

Mas foi o êxito de Pássaros Feridos que lhe permitiu abandonar a carreira de investigadora e docente para se dedicar exclusivamente à escrita. No final dos anos 70 instalou-se na ilha de Norfolk, no Pacífico, onde conheceu Ric Robinson, com quem se casou em 1983.

Pássaros Feridos entrou na cultura popular americana e o livro, com a sua história de amor proibido envolvendo um padre, é citado por personagens de várias séries televisivas. Num episódio de Os Sopranos, Tony Soprano receia que a mulher possa estar a envolver-se com o padre Phil, e confronta-a com essa suspeita. Carmela, simulando indignação, pergunta-lhe: “Do I look like the friggin' thornbird over here?” (em tradução livre, algo como: “Parece-te que sou aqui o raio do pássaro ferido ou o quê?”).

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