Temos a pornografia que merecemos

Fotogaleria

Embora "Hacia el Porno" não se centre no papel da mulher na indústria da pornografia, a verdade é que a fotógrafa russa Katia Repina só o pôde fazer porque também era mulher. "Sou jovem, sou mulher, tenho um corpo igual ao delas, pelo que me aceitaram muito mais rapidamente; pois um homem necessitaria de muito mais tempo para ganhar o mesmo grau de confiança", explicou ao P3. E porquê a pornografia? "Em geral, interesso-me por temas de que se fala em voz baixa, aqueles sobre os quais muitos não se atrevem a opinar sinceramente". E o que Katia encontrou foi um mundo no qual ninguém estava contra a sua vontade, apesar de ter presenciado "alguns momentos desagradáveis". "Na primeira rodagem onde estive", recorda, "o produtor teve de ausentar-se e pediu-me que fizesse fotos com a sua câmara. Queria fotografias muito, muito explícitas (muito diferentes do meu estilo). Tratava-se da rodagem de um filme que envolvia sexo anal e uma MILF. Naquele momento, senti-me uma carniceira!". "O que se passa é que a crise na indústria e a falta de trabalho obrigam as actrizes a fazer coisas que à partida estariam fora dos seus limites", acrescenta. "Como em Espanha, actualmente, não há muito trabalho", - prossegue - "os actores podem estar semanas e semanas sem trabalhar". As mulheres recebem mais dinheiro do que os homens, mas as suas carreiras são mais curtas, porque o mercado dá preferência à renovação das actrizes. Para Katia, a pornografia é um espelho da sociedade actual, na medida em que a mulher assume um papel "ainda objectificado". A fotógrafa cita María Llopiz, autora de 'El Postporno Era Eso', um livro sobre pornografia em Espanha: "Não me preocupa que a pornografia 'mainstream' seja sexista. Parece-me lógico. Temos a pornografia que merecemos".