A Europa está viva

O primeiro desafio grego está ultrapassado. Em poucas horas, Alexis Tsipras formou governo. Surpreendeu na escolha. Não optou por um partido da esquerda moderada, mas pelo oposto.

O Rio (To Potami), que durante a campanha foi dado como o mais provável aliado caso o Syriza não conseguisse sozinho a maioria absoluta, ficou de fora. O Rio tinha a vantagem de oferecer razões para o novo primeiro-ministro deixar cair posições mais radicais em nome da estabilidade governamental e da necessidade de acomodar os moderados da sua coligação. Não foi o que aconteceu.

Para surpresa de todos, e do próprio Rio, Tsipras aliou-se aos Gregos Independentes, de Panos Kommenos. Os Gregos Independentes não são da extrema-direita e têm muito pouco a ver com a Aurora Dourada, um partido com génese fascista e ideologia assumidamente neo-nazi, que criou os Médicos Com Fronteiras e um banco de sangue “só para gregos”, distribui alimentos pelos desempregados em bairros dominados por imigrantes e tem como lema “cada trabalhador estrangeiro equivale a um grego desempregado”.

Estudos feitos a seguir às eleições de 2012 concluíram que 60% dos desempregados tinha votado num destes três partidos, apesar de juntos representarem apenas 40% dos votos. Mais do que o desemprego – e dos três foi o Syriza que mais recebeu votos de desempregados – o que os distingue à direita é a leitura que fazem da identidade grega. A Aurora Dourada transforma a tendência nacionalista grega (e o ideal de um helenismo utópico) em racismo e o racismo em violência física brutal. Muitos dos seus deputados estão aliás na prisão. Os Gregos Independentes não têm nada a ver com isso. Vêm da Nova Democracia e são monotemáticos – existem para combater a austeridade. Se o Syriza diz mata, os Gregos Independentes dizem esfola. Se são radicais, são-no na intransigência às soluções dadas até agora para a crise. Não se sabe até onde.

A solução grega – uma aliança entre a esquerda radical e um pequeno partido de direita – nunca foi testada, é uma incógnita total. A distribuição das pastas ministeriais será o levantar da ponta do véu. A Europa está viva e à procura de soluções.

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