O que é um designer? Um excelente conversador

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Os dias de Emanuel Barbosa correm entre dois fusos horários, dependendo se está a dar aulas na Escola Superior de Artes e Design, em Matosinhos, onde é responsável pela coordenação internacional, ou em directo com Pequim, a coordenar mais uma edição da revista bimensal de design e arquitectura Casa International, da qual se tornou director criativo em 2012. Pode muito bem estar ainda a dividir as suas horas entre Paredes, no Vale do Sousa, onde coordena também a internacionalização do projecto Art on Chairs, ou a trabalhar no Vestigio, o seu estúdio de design gráfico no Porto.

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Os dias de Emanuel Barbosa correm entre dois fusos horários, dependendo se está a dar aulas na Escola Superior de Artes e Design, em Matosinhos, onde é responsável pela coordenação internacional, ou em directo com Pequim, a coordenar mais uma edição da revista bimensal de design e arquitectura Casa International, da qual se tornou director criativo em 2012. Pode muito bem estar ainda a dividir as suas horas entre Paredes, no Vale do Sousa, onde coordena também a internacionalização do projecto Art on Chairs, ou a trabalhar no Vestigio, o seu estúdio de design gráfico no Porto.

“Internacionalizar” é a vida deste designer com 45 anos, que cresceu na Bemposta a ver as barragens do Douro internacional tomarem forma sob as mãos dos arquitectos da Escola do Porto Archer de Carvalho, Nunes de Almeida e Rogério Ramos, num ambiente modernista “que nem representava o Portugal daquela altura”, como relembra agora. À China chegou em 2011, disposto “a aprender com a experiência, acreditando que a solução é sempre misturar o melhor de cada cultura”, algo que “é feito pelas pessoas, não por instituições. Foi feito pelo mercador português [Jorge Álvares], que criou empatias nos diversos países que visitou; pelo trabalhador que levou o cavaquinho para o Havai; pelo cozinheiro que introduziu a cozinha portuguesa na Ásia; pelo marinheiro que ensinou Português no Japão...”

O que Barbosa agora gostaria de ver concretizado seria a introdução de marcas nacionais num mercado “altamente competitivo, com uma grande classe média aspiracional”. Interessa-lhe “promover Portugal e desenvolver oportunidades de negócio”, aproveitando as portas que vai abrindo, comenta à Revista 2. Explica como: com a ESAD, levou no ano passado, durante duas semanas, 11 alunos e três professores a Pequim, para um workshop com o Central Academy of Fine Arts. Com o projecto Art on Chairs (que ficou em 1.º lugar na atribuição do Regiostars 2014, prémio da Comissão Europeia para os projectos de desenvolvimento regional), vai receber já em Fevereiro um workshop, com a participação de professores da Beijing Union University e da China Woman’s University. Com a Casa International, que redesenhou integralmente — “muito provavelmente a única revista chinesa com um design português” —, fez uma edição inteira em versão best of da arquitectura, design gráfico, fotografia, design de produto nacionais. Foram 200 páginas em “montra” de uma “indústria que no passado não investiu na criação da sua identidade, de marcas sólidas e capazes de dar cartas no mercado internacional, mas que agora está numa dinâmica e lufada de ar fresco”. Essa edição, a número 104 da Casa International, tomou-lhe um ano a fazer entrevistas, a escrever textos, a recolher imagens, a traduzir para inglês (“ainda não consegui aprender chinês, é muito difícil”, graceja). “De uma forma geral, o design e arquitectura portugueses eram totalmente desconhecidos. Captámos a atenção de potenciais clientes chineses, interessados em desenvolver projectos e obter alguns dos produtos divulgados na revista”, confirma Emanuel Barbosa. Fala, por exemplo, no escultor e pintor Shao Fan e no designer Zhang Zhoujie.

Mas a Casa International já não é apenas uma revista, é sobretudo uma marca que se desenvolve em várias plataformas. O Casa Studio, em parceria directa com o Vestigio Design, está a publicar livros especializados e a desenvolver aplicações para iPad sobre designers e arquitectos — a app com os objectos de design de Siza Vieira já foi editada no ano passado. O Casa Lab gere eventos, workshops e parcerias com universidades e museus. E a Casa Shop está num modelo pop-up, itinerante pelos vários eventos de design na China.

Neste momento, a actividade do estúdio Vestigio (que em 1998 abriu a Vestigio.com, loja online de mobiliário onde podem ser compradas as estantes Ptolomeo, de Bruno Rainaldi, ou a Ball Chair, de Eero Aarnio, por exemplo) “confunde-se um pouco com a própria revista e o Casa Studio”, explica Barbosa. “Cada projecto é encarado como um desafio, que me obriga a estar constantemente actualizado. Costumo dizer que um designer é, tipicamente, um excelente conversador, porque ao fim de alguns anos de trabalho consegue falar um pouco sobre tudo.”

Para o que Emanuel Barbosa vai tendo menos disponibilidade é andar de moto — “talvez seja da idade”, brinca. Tem uma pequena colecção e sabe qual tiraria da garagem para cada um dos momentos do seu dia. “Com a BSA Firebird, iria passear na marginal do Douro e foz do Porto para relaxar depois de preparar mais um número da Casa International; com a Harley-Davidson SXT125, faria Porto-Matosinhos, para ir à ESAD; e a Ducati Monster serviria para uma viagem pelas estradas do Porto ao Minho, onde actualmente desenvolvo um projecto, em Paredes de Coura.”