O antes e o depois das eleições gregas

Não é só a Grécia que está a aguardar o desfecho destas eleições. É toda uma Europa.

Mais do que uma grande interrogação sobre a Grécia, as eleições de hoje trazem uma enorme interrogação sobre a Europa. Alguns leitores escreveram-me por estes dias a queixarem-se de que as informações produzidas pelo PÚBLICO a propósito destas eleições nem sempre têm primado por uma informação imparcial e rigorosa. Por exemplo, a propósito das reportagens que a jornalista Maria João Guimarães tem enviado a partir de Atenas, um leitor manifesta estranheza para a notícia dada a 20.01.2015 sobre "um inusitado" apoio de Marine Le Pen ao Syriza. Anota o leitor: "Sendo da opinião que o jornalismo não é pura repetição de fontes". Não seria de colher a reacção do Syriza a esta declaração de um declarado tacticismo político por parte de Marine Le Pen? "Não seria de esperar o direito de reacção do visado?"

Não obstante a circunstância de a jornalista estar embrenhada nestes frenéticos dias de Atenas, praça pública de notícias díspares e até contraditórias, uma vez por mim interpelada, Maria João Guimarães reconheceu legitimidade ao reparo do leitor, esclarecendo que, quando enviou o texto, não era ainda do conhecimento público a reacção do Syriza. Quando conhecido, logo pediu à editora do PÚBLICO digital para acrescentar. Hoje, em texto mais completo, na 2, espera comentar informações fornecidas sobre a hora que nem sempre têm o enquadramento adequado.

Registo duas situações: a honestidade da jornalista e o reconhecimento do frenesim de fazer notícias sobre a hora num terreno em incendiada (e insidiosa) ebulição de um contraste constante de informações em que se tornou este acto eleitoral na Grécia. Não é só a Grécia que está a aguardar o desfecho destas eleições. É toda uma Europa.

A Grécia terá sido o país europeu que mais sofreu os efeitos devastadores de políticas internas e externas deste decénio. As consequências de uma crise financeira, económica e social fizeram acima de tudo duvidar da Europa. Duvidar de um projecto que preconizava uma Europa forte, próspera, livre. A Grécia foi, por estes últimos anos, um país agrilhoado, com um povo triste, despedaçado, em sofrimento, em trajecto de fome e miséria. No tablado partidário surgiram, em promessas e luta, projectos de esperança e mudança. Nestas eleições defrontaram-se conservadores, reaccionários, esquerda, direita, e seus extremos. Quem irá convencer o povo grego, com o seu voto, a emergir do pesadelo vivido? E todas essas forças partidárias espalhadas por toda esta Europa, escondidas ou reveladas, estão com os olhos na Grécia para cantar vitória ou derrota no resultado das eleições e, muito especialmente, sobre o que vai seguir-se nos dias seguintes.

CORREIO DOS LEITORES

Debate sobre a homeopatia

Prossegue, por parte de alguns leitores, a polémica sobre a homeopatia. Uma posição:

"E o PÚBLICO mantém a sua batalha particular contra a homeopatia, entrevistando o mesmo homem – (o leitor refere-se à entrevista feita a David Marçal, doutor investigador pela Universidade Nova de Lisboa, na edição de 20.01.2015)  que até publicou um artigo sobre 'mais do mesmo' para o mesmo jornal. Continuamos, apesar de tudo, na superfície, pois que continua o PÚBLICO a denegar a genuína definição de Ciência, bem como a matriz de uma Ciência feita de métodos que transcrevem as limitações do 'empírico' e do 'estatístico-probabilístico'. (…) Quando vai o PÚBLICO dar um tratamento objectivo à questão da 'pseudociência'? Pois que, pessoalmente, nem nego a sua existência, mas é preciso separar o trigo do joio."

Consultei a editora de Ciência do PÚBLICO, a jornalista Teresa Firmino, que responde assim, justificando a posição deste jornal:

"Das duas uma: ou aceitamos os métodos da ciência, ainda que tenham os seus limites, ou não os aceitamos. Querer alicerçar a homeopatia na ciência vai contra todos os estudos científicos independentes e de qualidade, que não têm encontrado nos produtos homeopáticos qualquer efeito terapêutico para além do efeito placebo (substância sem acção biológica, que produz melhorias transitórias na saúde de alguém que pensa estar a tomar um medicamento activo).

Se aceitarmos o método científico, temos de aceitar as suas conclusões, mesmo quando vão contra as nossas convicções. Um cientista é alguém que aceita que as hipóteses de partida do seu trabalho podem estar erradas, quando não as consegue demonstrar.

Quando não se aceitam as conclusões de um estudo científico, sejam elas quais forem, então passa-se do plano da ciência para o da crença. Aí, cada um é livre de acreditar no que quiser.

Num produto homeopático, não existe nenhuma ou praticamente nenhuma molécula – estamos mesmo a falar de moléculas – da substância que se diz ser responsável pelo efeito terapêutico. Do ponto de vista físico, um produto homeopático não contém essa substância em doses suficientes para ter efeito biológico. E não é por se invocarem conceitos inspirados na física quântica que esse produto tem efeitos biológicos e ganha credibilidade científica.

As 'visões menos convencionais' têm o seu lugar numa secção de Ciência de um jornal quando são estudadas com os métodos da ciência, publicadas em revistas de qualidade reconhecida e com resultados que podem ser reproduzidos por outras equipas de investigadores que não participaram no trabalho inicial. Nesse caso, são resultados científicos porque respeitam as regras de base da investigação científica. As 'visões menos convencionais' têm ainda lugar numa secção de Ciência para desmistificar as bases científicas que alegam ter."

O litígio Carrilho & Bárbara

O reparo do leitor: "É por demais evidente que um jornal como o PÚBLICO, dito de referência, bastante credibilizado e conceituado a nível nacional e internacional não deveria colocar os seus jornalistas, no caso presente o Pedro Sales Dias e a Maria João Lopes, a transcreverem um despacho do Ministério Público sobre a acusação a Manuel Maria Carrilho sobre uma questão que se tem arrastado pela imprensa nos últimos tempos. Essa notícia publicada no dia 20 de Janeiro, é toda ela uma transcrição do que a acusação diz ter sido a conduta de Manuel M. Carrilho ao longo dos últimos anos de casamento entre ele e Bárbara Guimarães. (…) Este folhetim serve não só para mostrar como as nossas elites, por vezes, se portam, deixando-se arrastar por uma onde de acusações públicas degradantes. Sinceramente acho que há matéria bem mais importante para publicar..."

Comentário do provedor:

Sobre esta queixa, ouvi a jornalista Maria João Lopes, que assina a notícia. Entre outras explicações, a jornalista confirma que a notícia é feita tendo por base ao despacho do Ministério Público. "Tal como em muitas outras situações, o conteúdo dos despachos de acusação dá origem a notícias." (…) "Além de se ter mencionado o documento e de se usar as aspas em várias passagens, os intervenientes foram contactados pelo PÚBLICO, isto é, foi dada tanto a Bárbara Guimarães como a Manuel Maria Carrilho a oportunidade para se pronunciarem." (…) "O caso tem tido grande cobertura mediática. Foram, porém, escassas as notícias dadas pelo PÚBLICO."

De facto, o leitor tem razão. Apesar de o PÚBLICO ter vindo a ser recatado sobre notícias deste triste caso entre conhecidas figuras públicas, cingir-se ao texto do despacho que só refere a acusação referente a uma das partes não "cobre" o diferendo em questão. Todavia, obviamente sem entrar em descrições alimentadoras de uma consumível morbidez social, provado que esteja ser um caso de "violência doméstica", o PÚBLICO de modo algum pode silenciar.

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