China distante das Lajes mas próxima de Portugal

Responsáveis chineses afirmam desconhecer interesse na Base, mas reconhecem vantagem no aprofundar da cooperação bi-lateral com Portugal.

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O presidente chinês esteve com Paulo Portas na ilha Terceira em Julho passado Darrin Zammit Lupi/Reuters

No espaço de 24 horas, o circuito diplomático chinês sinalizou o distanciamento de Pequim em relação à possibilidade de aproveitar algumas das infra-estruturas localizadas na ilha Terceira, Açores, como base para um entreposto comercial.

Os sinais chegaram tanto da capital daquele país, como da embaixada em Lisboa. Desafiado pela agência Lusa, o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros assegurou desconhecer "a situação referida na imprensa em Portugal" acerca do alegado interesse da China em algumas das instalações da Base das Lajes.

Poucas horas depois, era a vez da embaixada. "A nossa embaixada não tem nenhum conhecimento sobre o chamado interesse chinês na base das Lajes, nem comercial nem militar", afirmou Guo, directora dos assuntos políticos da embaixada da República Popular da China em Lisboa.

A diplomata chinesa acrescentou ainda que a embaixada não está a desenvolver "qualquer tipo de contactos" nesse sentido nem discutiu o assunto com o Governo Regional dos Açores: "Não sabemos por que o [presidente do] Governo Regional dos Açores disse isso", disse, em reacção à defesa de Vasco Cordeiro na possibilidade de aproveitar o porto oceânico da Praia da Vitória como hub portuário para as exportações chinesas para o Ocidente.

Aquela responsável fez ainda questão de desvalorizar as passagens de responsáveis políticos chineses pelo arquipélago nos últimos 3 anos. "O Presidente fez uma visita de Estado a países da América Latina e, na viagem de volta à China, fez uma escala técnica nos Açores. Não tem nada a ver com um interesse" na base das Lajes. Até há três anos, de cada vez que um responsável político chines visitava o continente americano, o regresso à China era habitualmente realizado através do Pacífico.

O Presidente chinês, Xi Jinping, aterrou em julho do ano passado, para uma visita de cerca de oito horas na ilha Terceira, onde se encontrou com o vice-primeiro-ministro português, Paulo Portas. Dois anos antes, o então primeiro-ministro chinês Wen Jiabao escalou também a ilha Terceira.

Ainda assim, Pequim reconheceu que encarava com interesse possíveis apostas no país. O porta-voz do MNE chinês reconheceu que “a China quer aprofundar a pragmática cooperação com Portugal em várias áreas e continuar a desenvolver as relações bilaterais".

No início do mês, a administração dos Estados Unidos anunciou a redução gradual dos trabalhadores portugueses e de civis e militares norte-americanos na base das Lajes, uma decisão em relação à qual o Governo português manifestou o seu "forte desagrado".

Isto após dois anos em que, devido ao anúncio de um estudo para reavaliar a decisão de “racionalização” de efectivos na Base, o Governo optou por abrandar a pressão sobre os EUA em relação à manutenção de uma negoiciação sobre essa redução. Após o anúncio – a 8 de Janeiro – ficou marcada para 11 de Fevereiro uma reunião da Comissão Bi-Lateral para os dois países discutirem a “decisão unilateral” dos EUA.

 

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