O adeus de Pedro Proença

Pedro Proença anunciou o fim da carreira como árbitro. Foram 466 jogos, incluindo presenças nas grandes competições do futebol internacional, um currículo ímpar na arbitragem portuguesa.

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Pedro Proença vai deixar a arbitragem DAMIEN MEYER/AFP

A 10 de Setembro de 2000, Pedro Proença Oliveira Alves Garcia fazia o seu jogo de estreia na primeira divisão. A primeira tarefa do jovem árbitro era um Desportivo das Aves-Campomaiorense, na Vila das Aves. Aos 17’, Duka, defesa da equipa alentejana, foi o alvo de um cartão amarelo exibido pelo árbitro de Lisboa, o primeiro de oito que Proença haveria de mostrar. “O jogo correu-me mal, ficaram alguns cartões por mostrar e alguns penáltis por marcar”, admitiria mais tarde. Foi tão contestado pelos adeptos da Vila das Aves que só conseguiu sair do estádio duas horas depois do jogo, sob escolta policial.

Passaram mais de 14 anos e Pedro Proença transformou-se numa referência da arbitragem internacional, acumulando presenças em todas as grandes competições. Nesta quinta-feira, este lisboeta de 44 anos anunciou o que era um segredo mal guardado, uma “decisão ponderada e tomada em consciência”: o fim da sua carreira como árbitro. Proença justificou a decisão com o “desgaste físico e mental” sofrido durante a longa carreira que teve na arbitragem. Assim, a pouco menos de um ano de atingir a idade limite, o último jogo da carreira de Proença acabou por ser um Cruz Azul-Auckland City em Marraquexe, que definiu o terceiro e quarto classificados do Mundial de clubes, em Dezembro passado.

“Tenho consciência de que deixo uma imagem de competência, profissionalismo e credibilidade perante todos os agentes desportivos com quem me cruzei. Mesmo reconhecendo que possa ter errado dentro de campo e sofrendo com esses mesmo erros, estou consciente de que muito fiz para melhorar as minhas capacidades”, declarou o agora ex-árbitro, garantindo que abandona a arbitragem “a bem com toda a gente”, não se referindo aos problemas que teve num passado recente com Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Na sua intervenção, Vítor Pereira também não se referiu a estas divergências, classificando o abandono de Proença como “prematuro”.

Neste adeus do qual já havia dado indícios em várias ocasiões, Proença mostrou-se satisfeito pela carreira que teve. “Estive em competições extraordinárias com os mais talentosos intervenientes. Estar presente em várias finais únicas, como a Liga dos Campeões e o Campeonato da Europa, foi uma jornada para a qual eu e a minha equipa muito trabalhámos. Aliás, vai para eles o meu profundo agradecimento”, referiu.

Proença não rejeita voltar ao futebol e à arbitragem num futuro próximo. “Estou disponível para contribuir no que for necessário em prol da arbitragem e do futebol português”, garantiu. Mas o seu futuro imediato, acrescenta, passa por ser administrador e director financeiro, e dedicar-se à docência académica. Considerado o melhor árbitro português de sempre e o melhor do mundo em 2014, Proença frisou que é altura de “dar lugar aos actuais valores” e que “o futuro da arbitragem portuguesa está assegurado”.

Acorreram à cerimónia realizada na sede da FPF muitas personalidades do futebol português, incluindo Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, Carlos Pereira, presidente do Marítimo. O FC Porto esteve representado por Antero Henrique, director-geral da SAD portista, que, no dia anterior, havia sido expulso durante o Sp. Braga-FC Porto por protestar contra a arbitragem de Cosme Machado — o juiz da Associação de Futebol de Braga não esteve presente na homenagem a Proença. Muitos árbitros marcaram presença, tal como Luís Duque, presidente da Liga de Clubes, Fernando Gomes, presidente da FPF, e antigos jogadores como Pauleta e Humberto Coelho, ambos quadros da federação.

Árbitro desde os 17 anos, Pedro Proença subiu à primeira categoria em 2000, tornou-se internacional em 2003, marcando presença nas fases finais do Euro 2012 (em que dirigiu a final) e do Mundial 2014. Segundo as contas da FPF, Proença dirigiu, desde 2000, 466 jogos, dos quais 362 em competições nacionais e 104 em competições internacionais. O primeiro escalão da divisão portuguesa foi a competição mais “visitada” por Proença, com 179 jogos, seguido da segunda divisão, com 113. Internacionalmente, esteve em 37 jogos da Liga dos Campeões, incluindo a final de 2012, em Munique, entre o Bayern e o Chelsea. A este currículo, só faltou mesmo acrescentar a final do Mundial.

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