Hospital da Feira com tempos de espera “inaceitáveis”

Ordem dos Médicos garante que unidade hospitalar está a trabalhar com metade dos profissionais na urgência e o dobro dos tempos de espera.

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Adriano Miranda/ Arquivo

O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM), o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e o Sindicato dos Médicos do Norte (SMN) visitaram esta sexta-feira a urgência do Hospital São Sebastião, em Santa Maria da Feira. Os responsáveis pelas organizações médicas estão apreensivos e garantem que o serviço está a funcionar com metade dos profissionais de saúde - quando deveria ter em permanência entre 14 a 16 médicos - e com o dobro do tempo de espera recomendável. Insiste-se na contratação de mais recursos humanos e pede-se ao ministro da Saúde que não permita que essas contratações sejam feitas através de empresas.

No ano passado, a Ordem dos Médicos já tinha alertado para a falta de 40 médicos em 14 especialidades no São Sebastião e este ano avançou com um inquérito de averiguações de responsabilidade disciplinar à directora clínica da unidade hospitalar, depois da morte de um doente de 57 anos que esperou cerca de cinco horas para ser atendido.

Depois da visita, a primeira que as estruturas médicas farão a vários hospitais do norte do país, Miguel Guimarães, presidente do SRNOM, conta o que viu. “Vimos muitos doentes e poucos profissionais de saúde. O hospital tem, de facto, uma carência muito grande a nível de médicos, enfermeiros, operacionais, maqueiros, assistentes administrativos, o que, na realidade, faz com que o tempo de espera para a observação de doentes seja clinicamente inaceitável”. Tempos de espera que, segundo revelou, ultrapassam uma a duas horas no caso das pulseiras laranja [situações muito urgentes] e três a quatro horas nas pulseiras amarelas [situações urgentes]. “Os doentes acabam por estar em risco. Há doentes que podem não estar a observados da melhor forma por terem de esperar mais tempo, o que é absolutamente inaceitável. Mesmo para os profissionais de saúde que aqui trabalham é absolutamente incompreensível e inaceitável que estejam a trabalhar sob um stress enorme por terem muitos doentes para observarem e por, muitas vezes, verem ameaçada a sua segurança no local de trabalho, o que não permite que se faça a medicina que devia ser feita”, sublinha.

A directora do serviço de urgência do Hospital da Feira e vários profissionais já tinham denunciado a falta de médicos. Miguel Guimarães ficou preocupado com o cenário que encontrou e aponta o dedo. “O responsável moral e político por esta situação é o senhor ministro da Saúde que condiciona, em termos de investimento, muito daquilo que são as necessidades dos hospitais que têm orçamentos extraordinariamente magros”.

Merlinde Madureira, presidente do Sindicato dos Médicos do Norte, também visitou a urgência do Hospital da Feira e ficou igualmente preocupada. Em seu entender, só pode haver duas explicações para o caos que se vive nas urgências hospitalares de todo o país. “Ou é incompetência ou é perversidade. Ou é incompetência que permite que ano após ano se mantenham nos lugares-chave as mesmas pessoas que no ano anterior demonstraram não ser capazes de resolver o problema. Ou há perversidade e o que se deseja é mesmo isto para que nem profissionais nem utentes se dirijam às instalações do Serviço Nacional de Saúde”, refere. Merlinde Madureira defende a criminalização dos responsáveis pela saúde – leia-se ministro da Saúde, responsáveis pelas administrações regionais de saúde, presidentes dos conselhos directivos dos hospitais – através de processos-crime. E fala em tristeza e raiva pelo o que está a ser feito, sublinha, “a um dos melhores serviços nacionais de saúde num país que é pobre, que não tem outros recursos”.

Carlos Santos, vice-presidente do Sindicato Independente dos Médicos, confessa que nunca tinha visto um serviço de urgência a funcionar como o do S. Sebastião. Ou seja, especificou, “com falta de mais de metade dos profissionais” e com uma “pressão enorme do excesso de doentes face ao número de profissionais”. “Isto cria um ciclo vicioso porque trabalhar nestas condições é trabalhar sob uma pressão enorme e a maioria dos médicos não estão disponíveis para serem contratados para estas funções”, avisa. Na sua opinião, é necessário que os centros de saúde possam dar resposta de forma a diminuir o recurso dos doentes às urgências hospitalares. 

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