Até agora, a erupção do vulcão do Fogo não teve efeitos na saúde

Populações deverão ser realojadas num bairro a construir de raiz.

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Cratera principal do vulcão na noite de 28 de Novembro fotografada a 800 metros de distância José Madeira/FCUL/IDL

Em actividade desde 23 de Novembro, o vulcão da ilha do Fogo, Cabo Verde, destruiu duas povoações e desalojou cerca de 1000 pessoas. Mas consequências directas na saúde não houve e agora as preocupações estão mais ligadas a eventuais efeitos psicológicos a longo prazo provocados pelo desalojamento das populações – referiu ao PÚBLICO o director nacional de Saúde de Cabo Verde, António Pedro Delgado, que esta semana deu uma palestra no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa.

“Não houve mortos, não houve feridos e mesmo as consequências que podem advir de uma erupção vulcânica ligadas à emissão de cinzas e gases não têm tido manifestações maiores. As situações que podem aparecer do foro respiratório, dos olhos ou da pele não têm sido verificadas”, disse o médico cabo-verdiano, especialista em saúde pública. “Onde temos alguma apreensão é em relação ao estado psicológico das pessoas a longo termo.” Três psicólogos têm acompanhado a situação na ilha.

O facto de as populações da Portela e Bangaeira, as duas povoações destruídas pela lava do vulcão, estarem a viver em casa de familiares e amigos e em centros de abrigo também acarreta problemas de natureza sócio-económica. Os férteis campos agrícolas de Chã das Caldeiras, uma depressão plana a cerca de 1600 metros de altura, onde existiam as duas povoações, também foram destruídos. Tal como a adega de Chã das Caldeiras, um dos poucos locais de Cabo Verde onde se cultivava vinha e produzia vinho, ou o edifício da sede do Parque Natural da ilha do Fogo. O turismo à volta do vulcão também se tornou uma fonte importante de rendimentos. “Os problemas de natureza sócio-económica terão algumas consequências ao nível da saúde, mas consequências directas não há grande coisa a assinalar.”

A preocupação no futuro imediato, disse ainda António Pedro Delgado, será realojar as famílias e avaliar as suas condições de sobrevivência. Passará isso pelo regresso das populações a Chã das Caldeiras e às proximidades do vulcão? “Tudo indica que se vai fazer de raiz um bairro para as pessoas poderem retomar as suas vidas, mas mais afastado deste perigo”, respondeu, acrescentando que não deverá ficar “exactamente em Chã das Caldeiras”. “Mas a minha percepção é que, uma vez que o vulcão deixe de estar em actividade, as pessoas vão retomar a sua vida e instalar-se em Chã das Caldeiras.”

Por agora, ao fim de quase dois meses de actividade, o vulcão está relativamente calmo. “Há alguma cinza, as lavas são menos, mas não se sabe se está a querer desactivar-se.” Na erupção anterior, em 1995, esteve a deitar lava durante um mês e 24 dias.

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