Situação na Ucrânia deteriora-se e Alemanha não vê "utilidade política" numa cimeira

Reunião de Astana, que era vista como uma boa ocasião para a retoma do diálogo, está comprometida. Combates intensificam-se em Donetsk. Ianukovich colocado na lista de procurados da Interpol.

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Os combates intensificam-se em Donetsk Marko Djurica/Reuters

A União Europeia está apostada em aumentar a pressão sobre a Rússia em relação à Ucrânia, onde os progressos na direcção de um cessar-fogo têm sido diminutos. A cimeira prevista para esta semana, que iria juntar a Alemanha, a França, a Rússia e a Ucrânia, foi posta em causa por Berlim, que exige a implementação de um cessar-fogo integral.

A chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, François Hollande, deveriam estar presentes numa cimeira em Astana (capital do Cazaquistão) na quinta-feira. "Mas não chegámos a um ponto em que esse encontro fosse politicamente útil", disse esta segunda-feira em Berlim o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier.

A anunciada cimeira não consta da agenda semanal de trabalho de qualquer dos dirigentes que deveriam participar nela. O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, confirmou que a cimeira não está contemplada na agenda oficial do Presidente russo.

Com as relações entre a Rússia e o Ocidente no ponto mais baixo desde o final da Guerra Fria, a reunião de Astana era vista como uma boa ocasião para a retoma do diálogo.

A chanceler alemã, Angela Merkel, já tinha feito saber que o levantamento das sanções europeias impostas à Rússia está dependente da adopção dos vários acordos que têm sido assinados em Minsk, e que prevêem um cessar-fogo no Leste da Ucrânia. Agora, Merkel recusa sentar-se à mesa com o Presidente russo, Vladimir Putin, enquanto os combates entre o Exército ucraniano e as forças pró-russas persistirem.

O aviso já tinha sido deixado por Merkel durante uma conversa telefónica com Putin no sábado, revelou o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert. Merkel pediu ao líder russo que “use a sua influência sobre os separatistas para que sejam alcançadas soluções consensuais”, disse Seibert, citado pela Reuters. A prioridade é a implementação efectiva de um cessar-fogo, condição prevista nos vários acordos já assinados entre Kiev e os líderes separatistas, mas nunca respeitada.

 A União Europeia seguiu a mesma lógica de Merkel e reiterou que as sanções actualmente aplicadas à Rússia pela anexação da Crimeia e pelo seu envolvimento no conflito no Leste ucraniano só serão levantadas em virtude do progresso das negociações de paz. “Acreditamos que as sanções impostas por causa do Leste da Ucrânia poderão ser levantadas quando virmos não apenas acordos assinados, mas verdadeiro progresso”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Letónia, Edgars Rinkevics, após um encontro esta segunda-feira com o homólogo russo, Sergei Lavrov, em Moscovo.

Lavrov afirmou que tem esperança que as “barreiras artificiais” que se ergueram entre a Rússia e a UE possam ser derrubadas. A Letónia, que assumiu a 1 de Janeiro a presidência rotativa do Conselho da UE, esteve em conversações na capital russa horas antes de um encontro entre as diplomacias alemã, francesa, russa e ucraniana em Berlim.

A UE, os Estados Unidos e o Canadá aplicaram sanções sobre alguns sectores-chave da economia russa, como a energia, a banca e o armamento, para além de terem congelado os bens e impedido a entrada de dirigentes políticos considerados responsáveis pela desestabilização da Ucrânia. Moscovo retaliou com um embargo a alguns produtos alimentares europeus.

A impaciência europeia está relacionada com a continuação dos combates em algumas zonas do Leste ucraniano. A região do aeroporto de Donetsk tem sido uma das áreas mais fustigadas nos últimos dias, em que se tem assistido a uma intensificação dos combates. Os bombardeamentos desta segunda-feira atingiram uma conduta de gás, causando um incêndio e cortando o fornecimento naquela área, informou a revista The Interpreter. O jornalista Harald Doornbos comparou a situação actual em Donetsk ao quadro vivido em Agosto, no pico da violência dos combates.

Na sexta-feira, as autoridades ucranianas informaram que quatro soldados e dois civis foram mortos durante os combates. Por seu turno, representantes da autoproclamada República Popular de Donetsk denunciaram a morte de civis, causada pelo fogo de artilharia das forças leais a Kiev, de acordo com a BBC. Mais de 4700 pessoas morreram desde o início das hostilidades, em Abril, das quais 1300 após o primeiro acordo de cessar-fogo assinado no início de Setembro.

A Interpol colocou o ex-Presidente ucraniano, Viktor Ianukovich, na lista de procurados, em resposta a um pedido feito por Kiev em Março, logo após a sua fuga para a Rússia e a subida ao poder dos novos governantes. De acordo com o serviço policial, o ex-Presidente é acusado de “apropriação indevida” e abuso de poder para proveito próprio.

As autoridades judiciais russas garantiram esta segunda-feira que não foi recebido qualquer pedido de extradição para o ex-governante, que se encontra na Rússia desde Fevereiro.
 

   


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