Três universidades do Norte criam o primeiro consórcio do ensino superior

Universidades são as do Porto, Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro. Exemplo deve ser seguido pelas instituições do Centro ainda no primeiro trimestre.

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A Universidade do Porto, em 9.º lugar da lista, melhora a sua prestação face a 2012 João Carlos Coelho/Arquivo

Não é uma nova universidade que nasce, mas pode ser uma forma nova de olhar para o sector. As universidades do Porto, Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro oficializam, esta sexta-feira, a constituição do primeiro consórcio de instituições de ensino superior. A colaboração nasceu a pensar em candidaturas conjuntas ao novo quadro comunitário de financiamento, mas evoluiu nos últimos meses. Fruto do acordo que é assinado em Vila Real, as instituições vão poder coordenar o número de vagas, por exemplo, ou promover conjuntamente a região como destino para estudantes internacionais.

O acordo de criação do consórcio UNorte.pt será formalizado esta sexta-feira, no Palácio de Mateus, numa sessão em que marcará presença o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. “Não é uma simples cerimónia num palácio muito bonito”, acredita o reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), António Fontainhas Fernandes, que acredita que a colaboração entre as três instituições do Norte pode ser um momento importante para o ensino superior e para a região.

“Não estamos a fazer uma universidade nova”, precisa o reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Avezedo. “O que estamos a fazer é facilitar a articulação entre as universidades, mostrando que é possível trabalhar conjuntamente”. A iniciativa pretende também demonstrar às empresas e instituições que este entendimento é possível. “Podem juntar-se a nós”, desafia aquele responsável.

Fruto deste acordo, as três universidades não perdem autonomia e vão continuar a ser independentes. O que está previsto é a criação de uma estrutura de coordenação, constituída pelos três reitores, e que terá liderança rotativa a casa ano. Esse órgão será responsável por identificar as áreas em que a colaboração é possível e por criar os consensos que permitam compatibilizar as estratégias das diferentes instituições.

As três instituições assinaram, em Abril, um “memorando de entendimento”, patrocinado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), que tinha como primeiro intuito a apresentação de projectos comuns ao programa europeu 2020. Mas, entretanto, a parceria entre as universidades do Norte evoluiu para um consórcio com objectivos mais alargados.

Os vice-reitores para a área académica das três universidades já constituíram um grupo de trabalho para articulação da oferta educativa, que está a preparar a forma como será feita a gestão conjunta do plafond de vagas para as licenciaturas. A intenção é que essa colaboração tenha efeitos já no próximo concurso nacional de acesso ao ensino superior, no final deste ano lectivo. O consórcio que é oficializado esta sexta-feira prevê ainda que haja partilha de recursos, físicos e humanos, nas actividades formativas, mas sobretudo na investigação, e o desenvolvimento de iniciativas conjuntas nas áreas do desporto, cultura e acção social.

Uma das iniciativas que está já a dar os primeiros passos é a criação de plataforma online que, por um lado, servirá de “monta” da oferta formativa das três universidades e, por outro, seja a âncora da aposta que a UNorte.pt quer fazer no ensino à distância. “Vamos disponibilizar cursos online em vários línguas”, promete o reitor da UP, Feyo de Azevedo.

As três instituições vão também trabalhar conjuntamente na promoção do Norte de Portugal como destino para académicos internacionais. “Se o Norte está a atrair turistas, porque não pode atrair estudantes e investigadores”, questiona Fontainhas Fernandes da UTAD.

A criação do consórcio de Universidade do Norte surge num momento de discussão de uma reforma no sector, que prevê fusões ou consórcios entre instituições e uma racionalização da oferta formativa. A tutela prometeu para o início deste ano precisar os termos das linhas orientadoras para essa organização que tinham sido apresentadas em Maio.

“Independentemente das questões que venham a ser levantadas pelo Governo, nós temos que ser proactivos. Em vez de estarmos à espera de um mapa para referendar, apresentamos a nossa proposta”, explica o reitor da UTAD, Fontainhas Fernandes.

“Esta é a resposta que as universidades do Norte entenderam ser adequada”, afirma o reitor da UM, António Cunha. “Isso não significa que está a melhor solução para todas as instituições”, acrescenta. Aquele responsável, que é também presidente do Conselho de Reitores, tem defendido uma “diversidade de respostas” ao problema da rede do ensino superior. No caso de Lisboa, “fez sentido” a fusão entre as universidades Técnica e Clássica, no Norte opta-se pelo consórcio e, noutras regiões, as universidades e politécnicos “podem certamente avançar para modelos diferentes”, defende.

Ainda assim, o exemplo do Norte deverá ser seguido, em breve, pelas três universidades do centro do país. Os reitores das universidades de Coimbra, Aveiro e Beira Interior têm estado em conversações para criarem um consórcio em moldes semelhantes na região e podem formalizar essa intenção à margem da cerimónia desta sexta-feira em Vila Real.

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