Direitos internacionais de Saramago passam para agência de Andrew Wylie

O Prémio Nobel era representado há quase 30 anos pela agência alemã Mertin Litag.

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José Saramago Nuno Ferreira Santos

A representação internacional da obra do Prémio Nobel 1998, José Saramago, passou a ser assegurada desde o passado dia 30 de Dezembro pela Agência Wylie que representa autores como Jorge Amado, Jorge Luis Borges, Roberto Bolaño, Salman Rushdie, Orhan Pamuk, Amos Oz ou Philip Roth, confirmou ao PÚBLICO a Fundação Saramago.

Os direitos de autor internacionais da obra do autor de Ensaio sobre a Cegueira eram até aqui representados pela agência alemã Mertin Litag, que esta sexta-feira divulgou um comunicado dizendo que “foi com grande surpresa que no dia 30 de Dezembro de 2014 recebemos um breve e-mail dos herdeiros dos direitos de autor da obra de José Saramago comunicando que entregariam com efeito imediato a representação dos direitos de autor da obra de José Saramago à Agência Wylie”.

Nesse comunicado, a agente literária Nicole Witt (distinguida como uma das três melhores agentes do ano 2014 pela Associação de Editores Britânicos e pela Feira do Livro de Londres) lembrava que a agência alemã – especializada em literatura espanhola e portuguesa - representou a obra de José Saramago durante quase três décadas e que o primeiro contrato para uma publicação dos seus livros na Alemanha data do ano 1986. “Foi muito antes da concessão do Prémio Nobel ao autor em 1998”, escreve Nicole Witt, acrescentando “que a agência já tinha conseguido uma lista significativa de traduções para a obra de José Saramago, primeiro sob a directoria de Ray-Güde Mertin, quem durante muitos anos também foi a tradutora literária para o alemão do autor, e depois do falecimento dela, em Janeiro de 2007, sob a minha.”

Foi através desta agência que Saramago viu as suas obras serem publicadas através da Harvill Secker na Grã-Bretanha, da Harcourt nos Estados Unidos, da Alfaguara para língua espanhola, da Feltrinelli em Itália, da Le Seuil em França ou da Hoffmann & Campe na Alemanha.

“Quando um grupo editorial europeu mostrou interesse em comprar a agência, foi mais uma vez o próprio José quem nos apoiou apostando claramente para que mantivéssemos a nossa independência. Quando me despedi de José Saramago em Junho de 2010, em Lanzarote, pouco antes do seu falecimento, senti que ele confiava no nosso trabalho e que estava satisfeito com os resultados obtidos: uma divulgação da sua obra em mais de 60 países em editoras excelentes, fazendo parte da melhor literatura mundial. Nesta altura já não houve muitas palavras, mas às vezes um olhar, a confiança duma relação crescida diz o que precisa ser dito”, acredita a agente literária alemã.

Ao PÚBLICO, Sérgio Machado Letria, director da Fundação Saramago, disse que “por parte dos titulares dos direitos de autor da obra de José Saramago a decisão de mudar de agência foi tomada por se ter chegado à conclusão de que era tempo de alterar as rotinas e situações existentes, passando a haver uma presença mais agressiva e mais abrangente da obra de José Saramago no circuito editorial internacional, assegurada pela The Wylie Agency”.

No comunicado, entretanto enviado à imprensa pela Fundação Saramago, é dito que os titulares de direitos de autor da obra literária de José Saramago “entendem ser devido um agradecimento à agência Mertin Litag, representada por Nicole Witt, respeitando o trabalho desenvolvido enquanto representante internacional da obra do escritor”. E explicam que esta mudança para uma agência literária de maior dimensão surge como um passo natural para “assegurar uma maior presença e divulgação da obra do Prémio Nobel português no circuito editorial internacional”.

À Lusa, acrescentaram que há alguns livros mais antigos de José Saramago que não estão ainda editados em alguns países e é sobre esses que recairá a atenção da agência Wylie, para além dos mais recentemente publicados como Claraboia e Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas.

A agência de Andrew Wylie, conhecido no meio como "o Chacal", foi criada em 1980 e o ano passado juntou-se a outra das maiores agências literárias internacionais, a da espanhola Carmen Balcells.

Sobre a obra de José Saramago, Andrew Wylie comenta citado no comunicado da fundação: “Leio José Saramago de maneira muito próxima e com profunda admiração desde o final dos anos 1980, quando se publicou em inglês, pela primeira vez, Memorial do Convento. E não há como confundir uma só página da voz característica deste autor com a de qualquer outro escritor, de qualquer época. O seu peso – e, ouso dizer, a sua leveza – influenciou escritores globalmente – e positivamente. Este é um homem que carrega uma mala pesada, transportando-a como se fosse uma pena.”

Em 2008, no seu blogue, a 18 de Dezembro José Saramago num post intitulado Editores referia-se a Andrew Wylie como “o famoso agente literário Andrew Wylie. Famoso, digo, embora nem sempre pelas melhores razões”.

Foi há um ano que os herdeiros de José Saramago assinaram um contrato com a Porto Editora, abandonando a Caminho, a chancela histórica do Nobel português, desde o primeiro livro aí publicado: A Noite, em 1979.

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