Esqueletos no armário

Um filme/um realizador sem unhas para as zonas de sombra das personagens.

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É uma história real: dois irmãos praticantes de wrestling, Mark Schultz e Dave Schultz (Channing Tatum e Mark Ruffalo), ficam na mira de um excêntrico milionário, John Du Pont (Steve Carell), que seduz Mark a participar no seu sonho de criar uma equipa olímpica para os Jogos Olímpicos de Seul (1988).

Para Mark é uma forma de se autonomizar do irmão, seu treinador, e encontrar uma figura paterna. Para o milionário é uma forma de, afirmando-se como coacher de Mark, ganhar a reputação dos seus pares e subir na estima da sua mãe. Muitos esqueletos no armário, portanto, e o final foi trágico: Du Pont matou a tiro Dave, rival, fantasma real da sua impotência, que nem os seus milhões puderam sossegar. 

Para contar esta relação a três, Miller afecta um tom distanciado. Uma escolha, determinação em não iluminar as sombras e manter aí o filme? Vai-se revelando, afinal, como uma indecisão, uma debilidade. Por exemplo, não saber o que fazer com o nacionalismo e militarismo de Du Pont, com o buraco negro que é essa personagem que Carell parece abordar como se fosse o Peter Sellers à beira do “idiota” Mr Chance no Bem-Vindo Mr. Chance, de Hal Ashby (1979)– a personagem parece conseguir apenas mostrar-se como espectáculo de burlesco deadpan. A performance do actor sofre, então, da mesma incapacidade de afirmação do filme: a ambiguidade é um refúgio, não um território escolhido.

 

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