Nuno Artur Silva a solo, ou nem tanto, no São Luiz

Nuno Artur Silva. A Sério? é o espectáculo em que o director das Produções Fictícias se apresenta em palco com os Dead Combo e António Jorge Gonçalves. "É um solo acompanhado que é basicamente o que é a vida."

O espectáculo está em sala até sábado
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O espectáculo está em sala até sábado Nuno Ferreira Santos
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Nuno Artur Silva com António Jorge Gonçalves Nuno Ferreira Santos
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Os Dead Combo tocam ao vivo Nuno Ferreira Santos
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Um solo que não é um solo. Uma estreia que não é uma estreia. Nuno Artur Silva, fundador e director das Produções Fictícias, está a partir desta quarta-feira no Teatro São Luiz, em Lisboa, até sábado, com um espectáculo que é uma espécie de stand-up comedy, ou uma apresentação mais sofisticada do estilo. Tem música ao vivo dos Dead Combo e ilustração em tempo real de António Jorge Gonçalves. Nuno Artur Silva. A Sério? tem tanto de biográfico como de satírico. Até podia ser um retrato do país ou da vida como ela é.

Quando se pensava que o stand-up comedy já não se fazia, pelo menos com a visibilidade de há uns anos, eis que Nuno Artur Silva nos troca as voltas. O homem que há mais de vinte anos trabalha com o humor e viu ganhar fama dezenas de humoristas volta ao princípio de tudo para nos fazer rir sem estar escondido atrás de um texto. Ele que está na origem de programas como Herman Enciclopédia, Contra-Informação, O Programa da Maria ou Os Contemporâneos.

“Queria voltar à faceta mais autoral”, diz Nuno Artur Silva aos jornalistas, no fim de uma pequena apresentação do espectáculo que nesta quarta-feira se estreia no Teatro-Estúdio Mário Viegas, a sala secundária do Teatro São Luiz. “Nos últimos anos tenho-me dispersado por áreas de apresentação, produção, programação e já há muito tempo que estava com vontade de voltar à parte autoral para experimentar coisas novas.”

Conhecemo-lo normalmente como o “gajo do Eixo”, como ele próprio brinca em palco, em referência ao programa que apresenta desde 2004 na SIC Notícias, Eixo do Mal. Postura séria, conversa séria, como se não fosse este o mesmo “gajo” que há anos faz rir meio país com os textos que escreve para que outros interpretem. Aos 52 anos, chegou a vez de o próprio dar vida ao que escreve.

“Não sou comediante nem sou actor, isto para mim é um prolongamento da actividade escrita, ou a parte performativa da escrita”, diz, contando que a ideia deste solo acompanhado – afinal está em palco com os Dead Combo e com António Jorge Gonçalves –, surgiu no ano passado quando foi desafiado pelo director do Famous Humor Fest, Hugo Nóbrega, a programar uma noite de comediantes para o evento. Torceu o nariz: “Era uma coisa que já tinha feito”. “Senti-me no Salão Preto e Prata do Casino do Estoril”, diz entre risos, numa referência a uma parte do texto em que brinca com os artistas que se apresentam nesta sala. Quando isto acontece é porque já foram, a carreira já era, ironiza.

E pensou numa alternativa: “Por que não um solo?”. Do outro lado do telefone ouviu um “a sério?”, daí o nome do espectáculo, e não teve dúvidas. O solo ia acontecer mas não poderia estar sozinho em palco. Chamou o amigo António Jorge Gonçalves para dar forma às palavras através da sua especialidade que é o desenho digital e os Dead Combo para dar música. Assim aconteceu no Famous Humor Fest e desde então os quatro têm vindo a trabalhar para agora se apresentarem no São Luiz em cinco sessões (desde quarta-feira a sábado às 21h, neste dia há ainda uma sessão extra às 17h30).

“Casámos bastante bem”, responde ao PÚBLICO Nuno Artur Silva, para quem isto é o mais próximo que vai estar na vida de saber o que é pertencer a um quarteto de jazz. “Há o tipo de cruzamento que há, imagino eu, quando os músicos se sentam para tocarem e vão ouvindo o que os outros estão a fazer e vão entrando”, continua. “É quase instinto”, diz Pedro Gonçalves, dos Dead Combo.

É por isso, “um solo batoteiro”, ou “um solo acompanhado que é basicamente o que é a vida”, acrescenta o director do Canal Q, lembrando que quando começou nisto do humor, “tinha uns vinte e tal anos”, era assim que se fazia. “Tínhamos um grupo que era uma espécie de pré-Produções Fictícias e como não havia canais de televisão nem internet, fazíamos isto nos teatros”, conta, revelando nunca ter pensado que depois dos 50 estaria a fazer aquilo que normalmente fazem os “miúdos”.

Quem o conhece, poderá reconhecer aqui algumas das suas piadas, embora o texto tenha sido escrito propositadamente para o espectáculo. “Há ecos de coisas que eu revisitei, as pessoas têm sempre as suas obsessões”, explica, contando que o texto fala não só da sua vida, “profissional sobretudo,” mas também de temas em que tem pensado ultimamente.

Ficamos a conhecer melhor Nuno Artur Silva depois deste espectáculo? Talvez sim ou talvez não. “Um stand-up é sempre um fingimento de biografia, chega a fingir que aquilo é o que deveras se sente”, diz o autor brincando com o verso de Fernando Pessoa. “Todos nós temos personas públicas. Quando apresento programas ponho um chapéu diferente, é uma persona diferente”, continua para depois concluir: “Essa persona tem muito a ver connosco mas não é aquilo que nós somos. Quando se diz que uma coisa é biográfica, é sempre parcialmente biográfica”.

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