Mármores de Elgin: a Grécia contra-ataca

Museu Britânico à espera de resposta para exposição que inaugura em Março. Museu de Arte Cicládica de Atenas ainda não disse se fará empréstimo-chave.

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A estátua do deus Illissos no Hermitage Grigory Dukor/REUTERS

Têm décadas as tensões entre o Reino Unido e a Grécia por causa dos polémicos mármores de Elgin. Apesar delas, o Museu Britânico e o Museu de Arte Cicládica (MAC), um dos mais importantes de Atenas, vinham mantendo boas relações. Com o radicalizar de posições dos últimos meses, no entanto, o braço-de-ferro institucional parece instalado: a três meses da inauguração da exposição Defining Beauty: the Body in Ancient Greek Art, o MAC ainda não decidiu se emprestará ao Museu Britânico uma peça-chave, avança o The Art Newspaper.

Segundo esta publicação especializada, o impasse é consequência directa do polémico empréstimo que o Museu Britânico fez ao Museu Hermitage de São Petersburgo, onde desde o princípio de Dezembro está em exposição uma escultura do deus Ilissos, um dos mármores de Elgin, o conhecido conjunto da Acrópole de Atenas, chegado a Inglaterra no arranque do século XIX e por cuja restituição a Grécia se vem batendo internacionalmente desde a década de 1980.

Os gregos, aliás, recusam chamar-lhes "mármores de Elgin", optando pelas designações "mármores da Acrópole" ou "mármores do Pártenon", o mais importante dos edifícios da colina ateniense.

Esse empréstimo, o primeiro de sempre que o Museu Britânico fez de uma das centenas de peças que em 1816 o Parlamento britânico comprou ao aristocrata escocês Thomas Bruce, sétimo conde de Elgin, foi feito como uma forma de Londres se juntar às comemorações dos 250 anos do mais importante museu russo. Acabou, no entanto, submerso numa onda de indignação liderada pelas mais altas figuras do Estado grego.

O empréstimo foi “uma afronta ao povo grego", denunciou o primeiro-ministro Antonis Samaras. "O Pártenon foi objecto de uma pilhagem. Nós, os gregos, identificamo-nos com a nossa história e a nossa cultura. Estas esculturas não podem em caso algum ser separadas, emprestadas ou dadas!”, fez saber Samaras num comunicado replicado depois pelo ministro da Cultura KonstantinosTasoulas

Depois de apenas três meses antes – em Agosto – a Grécia ter lançado a campanha “Revolver, Restaurar, Recomeçar”, impulsionada por Marianna Vardinoyannis, embaixadora da boa vontade da UNESCO e de – em Outubro – Samaras ter reunido com a advogada Amal Alamuddin e ter admitido recorrer aos tribunais internacionais caso Atenas não consiga um acordo extra-judicial com a Grã-Bretanha, Dimitris Pandermalis, o director do Museu da Acrópole, veio também a público recordar as negativas que Londres deu a pedidos seus semelhantes de empréstimo.

Agora foi a vez de Atenas fazer a sua jogada.

Com 24 peças do Museu Britânico em território nacional – empréstimo ao mesmo MAC –, a Grécia mantém-se em silêncio em relação à viagem da obra que lhe foi pedida e que o jornal The Art Newspaper não identifica.

Segundo esta publicação, para Defining Beauty: the Body in Ancient Greek Art, o Museu Britânico deslocará pela primeira vez alguns dos mármores do Pártenon do seu espaço de exposição permanente para uma sala de exposições temporárias, um núcleo de peças em que se incluirá a escultura decapitada do deus Ilissos, cuja exposição na Rússia termina no dia 18.

Ao Art Newspaper, o museu inglês fez saber que “apesar de ainda ser possível finalizar o empréstimo do MAC, o tempo é já apertado”. E o que se segue soa a provocação: “O acordo histórico [com o Hermitage] já espoletou uma vaga de interesse de outros mutuários e o Museu Britânico está a considerar três pedidos de empréstimo, com mais pedidos esperados.”        

No Hermitage, foi entretanto possível assumir claramente um empréstimo que tanto Londres como São Petersburgo mantiveram em segredo praticamente até vésperas da inauguração da exposição de Uma Obra-Prima do Museu Britânico: no site do museu, esta quarta-feira, havia várias imagens de Illissos na sua sala temporária na Rússia – contraste com o dia que se seguiu à inauguração da mostra, quando abrir o link só com o título da exposição não levava longe: uma página sem imagens e com apenas a frase “Por ocasião do 250.º aniversário do Hermitage, o Museu Britânico empresta uma obra-prima.”

Segundo o jornal The Art Newspaper, “no final desta semana deverão ser divulgados mais detalhes sobre a exposição” de Março do Museu Britânico. 

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