Quer comprar uma estação de caminhos-de-ferro?

A Refer está a vender parte do seu património.

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Há várias estações abandonadas pelo país Manuel Roberto

Quer comprar um apeadeiro ferroviário num sítio bucólico de Trás-os-Montes? Ou uma estação em frente ao Douro? Ou um terreno com vista para o mar no Alto Minho? Ou um apartamento em Sines ou em Queluz? Um armazém no Alentejo? Um terreno no centro de Sintra? Ou um lote junto à marina de Lagos?

Não, isto não é publicidade a uma qualquer agência imobiliária. É a empresa pública Refer que disponibiliza tudo isto para venda através da sua afiliada Refer Património que gere os activos não afectos à operação ferroviária.

E esta gestão passa por concessionar ou vender edifícios e terrenos que antes eram imprescindíveis ao funcionamento dos comboios. É todo um património que já pertenceu à CP, quando esta era dona de grandes estações onde trabalhavam e habitavam os ferroviários, de bairros residenciais e também de armazéns, oficinas e extensos terrenos com vias férreas onde manobravam e estacionavam locomotivas, carruagens e vagões.

As novas estações do Grande Porto são herdeiras, fora de moda, desse paradigma, mas no resto do país, a Refer procura rentabilizar esse património – muito dele ignorado – vendendo-o ou alugando-o.

No seu site a empresa anuncia a venda de terrenos perto do mar em Vila Praia de Âncora, Carreço (Viana do Castelo), Espinho, São Martinho do Porto e Lagos. Também os há para venda mesmo em frente ao Douro no Porto, Gaia e Régua. Entroncamento, Valado dos Frades (Nazaré), Malveira (Mafra) e Sintra também têm terrenos à venda. E até em Lisboa a Refer vende terrenos na Calçada da Glória, estes certamente mais caros do que os disponíveis nos antigos bairros ferroviários de Mora, Casa Branca (Montemor-o-Velho) ou Estremoz.

Além de terrenos, também há edifícios. São quase todos estações que marcaram uma época e que podem ser concessionadas ou vendidas para habitação, serviços, comércio ou hotelaria. Há-as, muito bonitas, em locais privilegiados da linha do Douro, ou na região do Tâmega, e em sítios remotos do interior do Alentejo. Podem vir a ser estalagens, restaurantes, hotéis de charme ou ainda sedes de associações e edifícios de uso municipal. Nalgumas pode-se acordar e viver ao ritmo da passagem dos comboios. Noutras, as locomotivas há muito que deixaram de apitar e restam carris velhos e enferrujados ou então ecopistas onde passam ciclistas e caminhantes em lugar de comboios.

Em Lisboa a Refer vende terrenos e edifícios em Braço de Prata e Santa Apolónia. E até na Parede, na linha de Cascais, a Refer publicita uma antiga casa da guarda da passagem de nível numa foto que valoriza sobretudo a marginal e o mar.

A crise trocou as voltas ao negócio da Refer Património. As vendas e concessões têm sido fracas e as receitas escassas. Mas vem aí um novo fôlego com a fusão da gestora de infra-estruturas ferroviárias com a Estradas de Portugal. António Ramalho, que preside à comissão destinada a integrar as duas empresas numa só, já anunciou que a venda de activos vai permitir encaixar muitos milhões de euros à futura empresa Infra-estruturas de Portugal.

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