As impressoras 3D poderão revolucionar a guerra económica

O tempo de vida das patentes associadas à impressão a três dimensões está a chegar ao fim. Peritos antecipam uma mudança radical não só no armamento, mas em toda a indústria.

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As impressoras 3D são usadas para fabricar bonecos Justin Sullivan/Getty Images/AFP

Durante muito tempo a impressão a três dimensões (3D) foi vista como um brinquedo, mas o seu uso cada vez mais diversificado, principalmente na indústria da defesa, pode anunciar uma nova revolução industrial, de acordo com os especialistas.

Para muitos, a impressora a três dimensões continua a ser um gadget, apenas funcional pra reproduzir pequenas figuras de plástico. Mas com o fim da validade de várias patentes-chave, as novas impressoras capazes de usar metal, madeira ou tecido tornar-se-ão muito mais acessíveis, o que pode sugerir uma mudança histórica para o mundo da manufactura.

Sempre a perseguir as novas tecnologias, a poderosa indústria da defesa está na vanguarda dessa inovação. O exército dos Estados Unidos anda a investir em força na impressão 3D, a fim de produzir uniformes, pele sintética para ajudar a curar ferimentos dos seus soldados e até mesmo alimentos, explica Alex Chausovsky, analista da empresa IHS Technology.

Os investigadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) até já inventaram a “impressão a quatro dimensões”, em que alguns materiais se transformam quando entram em contacto com outros elementos, como a água. Esta inovação poderá permitir no futuro a produção de uniformes camaleões que mudam de cor em função do ambiente envolvente.

Esta tecnologia tem já as primeiras aplicações práticas.

No fim de Dezembro, a tripulação da Estação Espacial Internacional pôde fabricar uma chave inglesa cujo design foi enviado da Terra, graças a uma impressora tridimensional feita especialmente para situações sem gravidade.

No fim de 2013, a empresa britânica BAE Systems, um gigante do armamento, integrou pela primeira vez uma peça de metal impressa a um avião de combate Tornado. Num vídeo recente, a empresa apresenta possibilidades futuras para a utilização desta tecnologia, incluindo a impressão tridimensional de um avião.

“É uma ideia a longo prazo, mas temos efectivamente o objectivo de construir um avião utilizando exclusivamente a tecnologia de impressão 3D”, explicou Matt Steven, responsável pela departamento de impressão 3D da BAE.

Revolução e novos riscos
A capacidade de enviar impressoras 3D para o campo de batalha poderá também transtornar as técnicas de combate e a indústria de defesa, sublinhou Peter W. Singer, especialista que pensa sobre como será a guerra no futuro no seio da New America Foundation, uma fundação pública dos Estados Unidos.

“Os soldados colocados no extremo do Afeganistão poderiam criar um software para fabricar uma peça em falta e imprimi-la”, longe das linhas de produção das fábricas de armamento.

No contexto da política externa, a tecnologia tornaria absurdas certas sanções que estão em vigor.

“Os Estados Unidos impuseram sanções sobre tudo, desde peças de substituição para aviões de combate até ao equipamento petrolífero. Mas a impressão 3D poderá tornar estas sanções completamente obsoletas – que constituem uma parte crucial da política externa há mais de uma geração”, sublinhou Peter W. Singer.

Mas esta facilidade de se construir armas fora dos circuitos industriais fará também emergir novos riscos, antecipam os especialistas.

“Imagine-se peritos em explosivos do Médio Oriente que começam a fabricar bombas que se parecem com objectos do quotidiano ou um lobo solitário que imprime uma arma em plástico que pode enganar o sistema de segurança que controla a entrada da Casa Branca”, adverte Alex Chausovsky.  

Mas além dos riscos de segurança, esta tecnologia poderá, sobretudo, criar uma revolução económica com consequências imprevisíveis.

Se cada pessoa começar a imprimir os bens de que necessita, os países cujas economias se apoiam na produção de jogos ou de vestuário à custa de mão-de-obra barata podem vir a enfrentar um problema.

“Para se perceber a ameaça da impressão 3D, veja-se até que ponto a China depende do seu sector industrial de baixa-gama”, refere Alex Chausovsky.

A impressão 3D foi inventada na década de 1980 e é uma tecnologia mais velha do que muitos imaginam. Mas está a viver um novo interesse porque as patentes que restringiam o uso da tecnologia original vão cair, o que permitirá uma competição que se espera que resulte em máquinas mais baratas e com mais qualidade.

“Com a impressão 3D, poderemos criar produtos que não poderiam ser fabricados com os métodos tradicionais”, defende Alex Chausovsky. “É difícil prever a extensão das implicações desta tecnologia.”

“Esta é a primeira vez depois de muito tempo que surge algo que vai provocar uma mudança radical na engenharia industrial”, defende, por sua vez, Matt Steven. “Não estamos a fazer simples progressos, estamos a reinventar as regras.”

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