Câmara de Sintra embarga montagem de estrutura metálica no Hotel Central

A Câmara de Sintra embargou a montagem de uma estrutura metálica na fachada do Hotel Central, na sequência de protestos da associação cultural Alagamares contra a descaracterização do centro histórico.

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A Câmara Municipal de Sintra pagou ontem os subsídios a todos os seus funcionários

“Ainda não sabemos se houve algum licenciamento, mas mesmo que tenha tido é um absurdo pelas características da fachada azulejada do imóvel”, comentou hoje à agência Lusa Fernando Morais Gomes, da direcção da Alagamares.

A associação protestou junto da Câmara de Sintra e da comissão nacional da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) contra “obras supostamente para a instalação de uma esplanada coberta no Hotel Central”.

A associação pediu esclarecimentos “sobre como foi possível a execução de tal obra em pleno centro histórico, zona integrada na área classificada como Património da Humanidade em 1995”, a menos de 50 metros de dois monumentos classificados, o Palácio Nacional de Sintra e a igreja de São Martinho.

Na comunicação salienta-se que a instalação das estruturas metálicas “é tão ou mais grave porquanto são fixadas/pregadas/aparafusadas em revestimentos azulejares antigos”.

“As fachadas do Hotel Central e do Café Paris são dos pouquíssimos exemplos de fachadas totalmente azulejadas existentes em Sintra”, nota a Alagamares, acrescentando que ambos os azulejos foram “produzidos pela Fábrica Viúva Lamego nos finais do século XIX e início do século XX”.

A associação defendeu a reposição da “situação anterior” e a reapreciação de um eventual licenciamento, “com vista a evitar a descaracterização da vila de Sintra e mais um atentado ao seu centro histórico”.

A Alagamares aponta como exemplos de intervenções lesivas anteriores a aprovação do Hotel Tivoli Sintra, nos anos de 1980, a remoção da cúpula do Café Paris ou “os abusos na ocupação da via pública, na profusão de letreiros dissonantes e de antenas de televisão cacofónicas”.

“Aos poucos, com estas intervenções, a paisagem da vila vai sendo alterada”, notou o dirigente da associação cultural, com sede em Galamares.

O presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta (PS), num despacho de 29 de Dezembro, a que a agência Lusa teve acesso, ordenou que seja notificado o “embargo da obra (montagem de estrutura metálica na fachada do estabelecimento Hotel Central)”.

O mandado de embargo fundamenta-se numa informação dos serviços, dando conta de que, em 24 de Setembro de 2014, “o Hotel Central apresentava a fachada sem qualquer elemento fixo”, ao contrário da “colocação de uma estrutura metálica com cerca de 25 metros de comprimento e 2,5 metros de largura”, verificada em 23 de Dezembro.

“A estrutura metálica constitui uma estrutura fixa à fachada e de carácter permanente, colocada em terreno privado do Hotel Central, configurando uma alteração exterior de fachada”, consideram os técnicos municipais.

Como o edifício se encontra abrangido “pela zona de protecção do Palácio da Vila e pela classificação da Paisagem Cultural de Sintra – Património Mundial da UNESCO”, a informação técnica conclui que estão sujeitas a licença administrativa obras de recuperação, ampliação ou alteração de imóveis classificados ou em zonas de protecção de património classificado.

A fiscalização municipal, na segunda-feira, verificou que “a obra está em curso” e o auto de contra-ordenações prevê uma coima entre 1.500 e 450.000 euros.

O proprietário dispõe de 30 dias para legalizar as obras ou, na sua impossibilidade, terá de a repor a situação anterior.

A agência Lusa tentou contactar o proprietário, mas uma funcionária respondeu que o administrador se encontra “ausente no estrangeiro”.

 

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