Reutilizar em português

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Madalena Martins fala com frequência em "reciclar" e "reutilizar" regina Coelho
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As almofadas produzidas pelos reclusos de Paços de Ferreira
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Os bonecos inspirados nos gigantones
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Agenda Esporão 2015

Há coisas boas que têm vindo a acontecer a Madalena Martins no seu dia de aniversário, 11 de Fevereiro. Em 2011, foi nesse mesmo dia que entrou no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira para trabalhar com os reclusos e nunca mais saí. Em 2013, enquanto a mãe lhe fazia o bolo e ela teimava em rapar a taça, inventou o Super Salazar a espátula tradicional ganhou orelhas de coelho porque os tempos políticos são outros e foi uma das propostas vencedoras no POPs-Projectos Originais Portugueses, uma iniciativa da Fundação de Serralves. Para 2015, Madalena já antevê que vai ter de programar muito bem o seu 11 de Fevereiro e pode até inscrevê-lo na agenda anual que acaba de criar para a Herdade do Esporão.

Este seu mais recente projecto tem uma edição limitada de 260 unidades e cada uma é peça única, com capa em cartão-jornal feita de rótulos e desperdícios vários da exploração vitivinícola de Reguengos de Monsaraz, inspirada nos padrões da tradicional manta alentejana que é já imagem de marca da herdade.

A designer nascida em Ponte de Lima fala com frequência em reciclar e reutilizar enquanto nos explica a sua quase obsessão com o que sobra das indústrias. Dá exemplos: Para uma edição do Serralves em Festa criou a almofada de rua, uma ideia que a levou a recuperar 2.500m2 de telas publicitárias da Superbock (a Unicer é mecenas daquele festival) para produzir uns rectângulos com enchimento de esferovite proveniente dos revestimentos de electrodomésticos. Em pouco mais de mês e meio deu trabalho a seis reclusos de Paços de Ferreira que transformaram 55 outdoors em almofadas para levar a tiracolo.

Formada pela Faculdade de Belas Artes do Porto, Madalena Martins já tinha tentado trabalhar directamente com artesãos mas acabava por ter mais nãos como resposta do que ver concretizadas as suas ideias. "Eu nem sabia que havia oficinas de carpintaria, serralharia, alfaiataria para formação de adultos na prisão. Tenho prototipos que não passaram da gaveta por não encontrar artesãos que os quisessem fazer. De repente tinha ali as ferramentas e as pessoas disponíveis".

Actualmente já trabalha também com reclusos de Custóias (Matosinhos) e com elementos do GAF, uma instituição que promove a reintegração social em Viana do Castelo e que acabou por a estar a ajudar na concretização da Agenda Esporão 2015. Com a Herdade do Esporão houve uma sintonia feliz, explica-nos, entre conceitos de responsabilidade social e ambiental de ambas as partes. "Visitei a herdade, percebi o ambiente e a cultura, vasculhei todos os caixotes de lixo para ver o que deitavam fora, desde excedentes de produção a rótulos antigos, ementas do restaurante, antigos catálogos, recortes de jornal". E depois foi cozinhar esses ingredientes todos. Oito pessoas do GAF fizeram a contracolagem de papel fino do jornal em cartolina, para ser posteriomente recortado e colado às capas da agenda e a quatro reclusos de Paços de Ferreira coube colarem estes elementos todos em cada capa de cartão, o que até parece uma tarefa simples mas é, pelo contrário, um processo demorado e que exige um grande rigor com o manuseamento da cola.

Madalena diz que trabalha em turnos: ora está no seu atelier virado para o mercado do Bolhão a criar a identidade visual das empresas que procuram o seu trabalho de designer gráfica; ora está a ser designer de produto e a reinterpretar a arte popular portuguesa mostrando candeeiros de tecto inspirados na figura dos gigantones das festas de Viana do Castelo ou andorinhas para trazer na lapela inspiradas no ícone criado por Bordalo Pinheiro em 1891. Os concursos POPs da loja de Serralves serviram de alavanca para dar vazão à criatividade da designer, que entretanto criou as marcas Bicho de Sete Cabeças e Marias Portugal para mostrar como se pode reinventar a identidade portuguesa.

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