A roda da fortuna está a virar-se para o lado do azar em Macau

Receitas do jogo deverão cair este ano no território, o que acontece pela primeira vez desde 2002.

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Quando, há meia dúzia de anos, Macau ultrapassou Las Vegas em receitas provenientes das mesas de jogo e das slot-machines dos casinos, anteviu-se um futuro próspero para o território que deixou de estar sob administração portuguesa em 1999.

O facto de as autoridades de Pequim terem aberto as portas aos seus cidadãos para que pudessem saciar o seu lendário apetite pelo jogo deu um empurrão fundamental à indústria do jogo em Macau. Mas o efeito de atracção quea cena de jogo macaense gerou noutros países vizinhos foi fundamental para que o sector crescesse a um ritmo que parecia imparável.

Eis senão quando, Xi Jinping chega ao poder e faz do combate à corrupção uma das linhas de actuação centrais do governo que lidera. Um combate que é feito no plano interno, mas que tem uma clara extensão a Macau, porque muito do dinheiro ilícito obtido na China Continental escapa ao controlo das autoridades através do sector do jogo instalado no território.

E, assim, o que parecia impossível, acabou por acontecer. Macau deverá fechar o ano que está prestes a terminar com as receitas do jogo a caírem pela primeira vez face ao ano precedente – algo que não acontecia, pelo menos, desde 2002, quando o registo começou a ser feito.

Dados compilados pela agência Lusa, há cerca de uma semana, apontavam para uma estimativa de 35,2 mil milhões de euros de receitas em 2014, um recuo de cerca de 3% face ao ano anterior. Especialistas consultados pela agência Bloomberg apontam para um cenário menos pessimista, mas mesmo assim de redução das receitas perto de 1%.

E como não podia deixar de ser, este cenário está a afectar o desempenho em bolsa das acções das companhias que operam o jogo em Macau. O mais prejudicado é o império de Stanley Ho, que detém vários casinos em Portugal. A holding que controla perdeu 52% de valor este ano. Seguem-se os norte-americanos Sheldon Adelson e Steve Winn, que viram as companhias que listaram em Hong-Kong e que controlam casinos em Macau perderam cerca de 40% de valor este ano.

Os problemas que a indústria do jogo enfrenta em Macau não se ficam pelos impactos do combate à corrupção. O abrandamento da segunda maior economia do mundo, que deverá crescer este anos pouco acima dos 7% (face a uma média que ronda os 10% nos últimos anos) é também responsável pela quebra de receitas. E há, noutras paragens, uma onda de abertura de novos casinos que aperta a concorrência sobre o território.

Mas a última machadada pode ter sido dada por Xi. Na passada, o líder chinês deslocou-se a Macau para participar nas cerimónias que assinalavam os 15 anos da transferência de administração de Portugal para a China e, num dos discursos que proferiu, defendeu que Macau tem que diversificar a sua economia, ou seja, não pode seguir um caminho de crescente dependência face ao jogo de casino.

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