Corrupção e justiça no limiar do novo ano

Na transição para 2015, corrupção e justiça põem à prova a resistência do sistema político em Portugal.

O aviso vem de António Barreto, ouvido nesta edição a propósito da transição de 2014 para 2015: os processos judiciais que andaram na ribalta ao longo do ano revelam uma degenerescência do sistema político. Ou seja, nas suas palavras: há “em Portugal uma dimensão de corrupção que põe em causa o sistema”. E, não havendo uma derrocada iminente, há pelo menos a consciência de que os alicerces são frágeis, até fragilíssimos, não apenas ao nível da credibilidade dos políticos como nas elites económicas. O facto de haver uma sucessão de processos judiciais que envolvem figuras de proa desses dois universos (caso dos submarinos, caso Sócrates, caso Duarte Lima, Face Oculta, vistos gold, Monte Branco, GES/BES) obriga a que se vá, agora, mais longe, no sentido de clarificar responsabilidades e num combate efectivo (não apenas retórico) à corrupção. Até onde estenderá esta os seus tentáculos? A que estruturas se agarrou com firmeza, ao longo destes anos? Corresponderá a vaga de processos em curso a uma real clarificação dos efeitos nefastos da corrupção no sistema político e económico português? Ou será apenas mais uma batalha inconsequente sob a capa de uma cruzada regeneradora? Estas e outras perguntas transitam para 2015, arrastando consigo o peso de muitas suspeitas e incompletos fundamentos. Porque detenções e ruído mediático não fazem uma melhor justiça, apenas prolongam o período de constante indefinição em que por regra vivemos. O apressar dos processos, dos julgamentos, a apresentação de provas em tribunal e não à sua margem, contribuirão para que a justiça e o regime se credibilizem. O arrastar de tais processos, pelo contrário, terá o efeito nefasto do costume: potenciais “condenações” sem julgamento efectivo; e uma estranha sensação de que, para lá das aparências, a corrupção continuará pacatamente a sobreviver, lá onde tem germinado durante tantos e tantos anos.

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