Música fortalece a economia europeia

Mesmo em condições de mercado relativamente adversas, a música continua a ter um papel central na vida das pessoas.

Apesar da violenta crise que atingiu a indústria musical desde meados da década anterior, este importante sector de criação e intervenção artística em palcos e estúdios continua a ser um dos mais produtivos da vida cultural europeia com 1,2 milhões de pessoas empregadas e com mais de 650 mil músicos, compositores e autores de canções registados nessa condição, criando riqueza e mantendo os seus postos de trabalho.

Esta é uma das conclusões do estudo “Creating Growth-Measuring Cultural and Creative Markets in the EU”, apresentado pelo Grupo Europeu de Sociedades de Autores (GESAC) à Comissão Europeia há poucas semanas em Bruxelas.

Apesar de muitos estúdios terem fechado e de as novas tecnologias imporem novas práticas de trabalho artístico e de registo das obras para circulação, continua a ser muito elevado o número daqueles que encontram neste sector saídas profissionais, sobretudo num contexto de crise que a todos ameaça, em particular na Europa que tão afectada tem sido por este ciclo de rupturas e mudanças de desfecho imprevisível.

Constata este estudo que os mercados da música gravada e da música ao vivo funcionam em simbiose, o que significa que as antigas compartimentações têm vindo a ser ultrapassadas pela prática quotidiana do sector. Apesar disso, em 2013 foi registado um ligeiro aumento do sector da música gravada, da ordem dos 0,6 por cento, o que revela o seu potencial para o futuro, mesmo num reconhecido contexto de crise.

Por seu turno, apesar das dificuldades decorrentes da ausência de uma produção legislativa adequada e da por vezes tensa relação com a Comissão Europeia, as estruturas responsáveis pela gestão colectiva do direito de autor  distribuem mais de 4,3 mil milhões de euros anualmente aos seus associados, número revelador da sua importância no quadro da economia da cultura.

Entretanto, com novas formas e vias de diálogo e de contratação, tem vindo a aumentar o número das companhias que apostam na busca de novos talentos na área da criação musical (ficando aqui excluído o debate sobre a qualidade das opções dominantes), o que significa que a música, mesmo em condições de mercado relativamente adversas, continua a ter um papel central na vida das pessoas e na escala dos seus gostos e interesses. Deste modo, quatro mercados musicais europeus confirmaram a solidez das suas posições no âmbito dos 10 mais importantes do mundo, a saber o alemão, o britânico, o francês e o italiano, que competem com os poderosos mercados norte-americano e brasileiro, entre outros.

Merece, por outro lado, destaque o aumento significativo da importância do mercado da música ao vivo na Europa da União, o que está patente na proliferação de grandes e médios festivais de que Portugal é um expressivo exemplo, mas também na consolidação dos públicos da ópera e da música erudita nas grandes cidades europeias, destacando-se o papel de salas como as da Ópera de Paris, do La Scala de Milão  ou da Royal Opera House de Londres.

Deve igualmente ser referida a consolidação do mercado digital em todo o sector da criação, produção e comercialização da música, com um significativo crescimento de 109 por cento na Europa entre 2009 e 2013. Apesar desta mudança que vai condicionar o futuro no que toca às grandes opções estratégicas de crescimento e investimento, os europeus contam-se, a nível mundial, entre aqueles que continuam a preferir a música gravada. De acordo com números provenientes da indústria musical, as vendas digitais registaram em 2013 um aumento de 39 por cento a nível mundial e de 32 por cento na Europa. Assinala o estudo agora apresentado à Comissão Europeia que o “download” continua a ser a principal fonte de rendimento com valores da ordem dos 67 por cento, enquanto o crescente sector do “streaming”, sempre com maior e mais representativo número de aderentes, ascende aos 27 por cento de receitas no domínio digital.

Estes números confirmam a importância do sector da música no âmbito da economia da cultura, embora nada revele acerca da consistência e qualidade das escolhas feitas, e leva-nos a dar razão ao filósofo Friedrich Nietzsche quando, numa das suas reflexões aforísticas, afirma que “sem música a vida seria um erro!”

Escritor, jornalista e presidente da Sociedade Portuguesa de Autores

Sugerir correcção
Comentar