Um satélite que ajuda as renas a encontrar alimento

O satélite Copérnico providencia durante todo o ano registos diários com informação sobre a cobertura de neve

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David Moir/Reuters

É nesta altura do ano que o satélite Copérnico, da Agência Espacial Europeia (ESA), é mais importante para as renas na Escandinávia. Através de mapas com informação recolhida a grandes latitudes, os pastores das "ajudantes do Pai Natal" ficam a saber as melhores rotas para a alimentação destes animais, colocada em causa devido às alterações climáticas 

A criação destes mamíferos, uma prática que começou com os povos indígenas do Ártico, é uma tradição secular considerada um modo de vida no norte da Escandinávia e na Rússia. Os pastores de renas têm de migrar com os seus animais centenas de quilómetros por ano para encontrar as melhores fontes de forragem de época para época. A quantidade de neve vai determinar se as renas vão ser capazes de chegar às pastagens que se encontram grande parte do tempo cobertas de gelo.

"Este período é o mais crítico do ano porque é normalmente quando a neve começa a acumular", refere, em declarações ao Ciência 2.0, Eirik Malnes, investigador responsável pelo projecto EU FP7 CryoLand, que faz a recolha desta informação.

"As chuvas que ocorrem depois dos nevões, mais frequentes com as alterações climáticas, são o cenário mais negativo para as renas, pois vão fazer derreter a neve e criar uma camada espessa de gelo", acrescenta. Se depois destes eventos houver frio e muita neve, pode desenvolver-se uma camada de gelo impenetrável. Foi o que aconteceu no último inverno em que muitos destes animais acabaram por morrer devido à falta de alimento. 

Informação pela Internet

"A informação para os pastores encontra-se disponível na internet e fazemos reuniões periódicas com os pastores para lhes falar dos mapas". Os dados pertencentes ao projeto que chegam aos responsáveis pelo pastoreio ajudam nas tomadas de decisão em relação às rotas de migração, pois permitem encontrar áreas onde a neve é inexistente.

O contexto de aquecimento global, em que o derreter da neve durante a primavera é cada vez mais imprevisível, faz destes mapas um instrumento essencial, salvaguarda a ESA em comunicado. O satélite Copérnico providencia durante todo o ano registos diários com informação sobre a cobertura de neve, informação geoespacial, tendências de queda de neve, entre outros. "Os rebanhos de renas são superpovoados e isso é por vezes complicado porque se alimentam de líquen, uma espécie de musgo, que está ameaçado de extinção devido ao sobrepastoreio", adianta. Os líquenes que "sobrevivem" estão, com frequência, comparativamente a anos anteriores, cobertos por gelo, devido às alterações climáticas.

Para além das renas, outros animais, como alguns roedores, podem ter como ameaça as mudanças no clima. Eirik Malnes trabalha em conjunto com outros botânicos e zoólogos na Noruega para entender as interações entre a cobertura de neve e o ciclo de vida de outras espécies, para além das renas. "Prevemos que estes animais venham a precisar de mais pastagens, mas isso é complicado", adianta. "Acreditamos que um melhor acompanhamento e compreensão da cobertura de neve são importantes para conseguirmos lidar com o aquecimento global", conclui.

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