Miguel Albuquerque em vantagem nas “primárias” do PSD-Madeira

Ex-presidente da Câmara do Funchal “beneficia” da feroz campanha negativa de Jardim, que vai continuar em gestão corrente até às eleições regionais.

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Miguel Albuquerque foi o único adversário de Jardim nas últimas directas e obteve 49% dos votos DR

Miguel Albuquerque está em vantagem na corrida à sucessão de Alberto João Jardim na liderança do PSD-Madeira, uma espécie de “primárias” para a escolha do candidato social-democrata às próximas eleições legislativas regionais.

Há dois anos no terreno, depois de ter obtido, a 2 de Novembro de 2012, uma surpreendente votação de 49% nas primeiras internas em que Jardim teve adversário desde 1976, Albuquerque é primeiro nas sondagens e no boletim de voto. Na perspectiva de alternância de poder, é também o candidato social-democrata mais temido pela oposição para as próximas regionais, que poderão ser antecipadas, de Outubro para Abril ou Maio, se Jardim consumar o seu pedido de demissão do governo a 12 de Janeiro, logo após o congresso de consagração do novo líder.

O ex-presidente da câmara do Funchal tem sido confrontado quase diariamente com uma demolidora campanha de Jardim no governamental Jornal da Madeira, o que, numa situação de fim de ciclo politico, poderá ter um efeito oposto ao pretendido pelo seu autor. Tais ataques permitem a Albuquerque ser identificado pelas bases como o protagonista da ruptura com o jardinismo e com a sua pesada herança, sobretudo em termos sociais e financeiros.

João Cunha Silva e Manuel António Correia, ambos membros do governo cessante, parecem disputar a segunda posição nas directas marcadas para esta sexta-feira, e, numa provável segunda volta a 29 de Dezembro, agregar os eleitores das candidaturas eliminadas, na prossecução de um “jardinismo sem Jardim”. Com menos aderentes, pelo menos a nível de participantes nas acções de campanha e sondagens, Miguel de Sousa e Sérgio Marques são vistos como os rostos de uma “primavera marcelista”.

Sexto candidato a apresentar-se, último nas sondagens e sem propaganda visível, Jaime Ramos pode ser decisivo, mesmo com uma votação residual, na escolha do segundo líder do PSD em 40 anos de autonomia regional. Poder-se-á então confirmar se o ainda secretário-geral do PSD e líder parlamentar apoia de facto Albuquerque, como têm denunciado seus adversários internos.

Contra o arqui-rival Albuquerque, Jardim ameaça intervir na campanha para o segundo round, a favor de um dos seus candidatos predilectos: Manuel António Correia, o candidato que lançou quando o ex-autarca avançou, e Cunha Silva, o seu vice no governo. “Não deixem a Madeira voltar à mão daqueles que estão dispostos a entregar a Madeira aos senhorios do antigamente”, “ir para as mãos da maçonaria” ou “daqueles que são aliados dos que, em Lisboa, não podem ver o povo madeirense e nos atraiçoam”, apela o líder cessante, de dedo apontado ao ex-presidente do Funchal.

Candidatos “reescrevem” argumentário da oposição
Durante a longa campanha para a eleição directa do novo líder do PSD-Madeira, e concerteza candidato deste partido a presidente do governo regional, os concorrentes à sucessão de Jardim envolveram-se, entre acusações de “traições” e “cumplicidades”, em acesa polémica na tentativa de demarcarem-se das quatro décadas de jardinismo. Reescreveram o “argumentário” seguido pela oposição nas regionais de 2011, em que o PSD teve o seu pior resultado , e nas autárquicas de 2013, em que perderam sete das 11 câmaras com que dominava todo o poder local no arquipélago. Guião que voltará a ser utilizado na próxima campanha para as regionais de 2015.

O PSD de Jardim perdeu em toda a região 43 mil votos em seis anos. Entre as eleições regionais antecipadas de 2007 e as autárquicas de 2013, a votação dos sociais-democratas caiu para quase metade, ao passar dos 90 mil para 47 mil votos. Face às últimas autárquicas, perdeu cerca de 25 mil votos.

Ao anunciar a sua (re)candidatura, no início do ano, Albuquerque defendeu que, face à hecatombe sofrida pelo PSD nas autárquicas, seria urgente antecipar para Junho passado o congresso electivo, de modo a evitar uma maior erosão do partido. "Há um tempo histórico que se esgotou. A actual liderança já não suscita adesão ou credibilidade" e "é imperativo mudar de liderança e de política enquanto é tempo", justificou o ex-presidente da câmara do Funchal. Mas a proposta de antecipação do congresso foi rejeitada pelo conselho regional, constituído exclusivamente por membros propostos pelo líder, aliás como são, à revelia dos estatutos nacionais do partido, constituídos todos os órgãos do PSD madeirense.

Tanto João Cunha e Silva, vice-presidente do governo, como Manuel António Correia, responsável pela pasta dos Recursos Naturais no executivo de Jardim, admitem, de forma cautelosa, que é preciso “mudar aquilo que deve ser mudado”. Só que tal reconhecimento não basta, sustenta Miguel de Sousa, que acusa estes governantes de serem cúmplices da “maior catástrofe  financeira da História da Madeira”. Os madeirenses, que estão a suportar uma “dívida monstruosa”, frisa o vice-presidente da assembleia regional, “precisam de mais emprego, menos impostos e de custo de vida mais barato”.

Cunha e Silva é o único candidato que admite, se ganhar as directas do PSD, assumir a chefia do governo sem recorrer a eleições regionais antecipadas, alegando que a actual conjuntura é desfavorável ao partido. Na véspera do acto eleitoral, e em tom mais alarmista, Jaime Ramos diz que, se o acto eleitoral for antecipado, “não haverá nenhuma obra em 2015”. Se tal acontecer, adverte, “alguém vai ser responsável pelo aumento de mais de 10 mil desempregados e por colocar 30 mil pessoas em grande dificuldade finaneira e social”.

“Cospem no prato que lhes servi”
“Cuspir no prato onde comeram revela falta de carácter para liderar o PSD/Madeira”, sentencia Jardim, agastado com a demarcação da sua governação por parte de alguns candidatos durante a campanha das eleições internas.

“Foi o jardinismo que os lançou na política, que lhes pagou  a eleição, que saltou para cima dos palcos a pedir o voto em quem ninguém sabia quem era”, diz Jardim sobre os candidatos à sua sucessão.

Além de acusar estes companheiros de “cuspir no prato onde comeram e empresarialmente se pagaram bem”, Jardim considera ser também “muito feio” e revelar “falta de carácter, aceitar os cargos institucionais e partidários para que se foi convidado ao longo dos decénios, ter sido fervoroso apoiante da revolução tranquila em curso, mas vir agora arrogante e depreciativamente, num ataque pessoal, falar de jardinismo”. 

“O que é isso do 'jardinismo', que se é aquilo que penso que eles querem dizer, faz deles alguém?”, questiona. E num apelo aos 7.200 militantes inscritos para votar: “Vamos entregar o PSD/Madeira a gente desta?”

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