"A venda das minhas acções não tem nada a ver com as informações que eu tinha"

Pedro Mosqueira do Amaral, ex-administrador do BES e membro do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo, vendeu as suas acções do banco, em Janeiro, depois de conhecer "a falsificação das contas".

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BES liderou as perdas ao cair 3,77% Sara Matos

Pedro Mosqueira do Amaral começou a sua intervenção procurando afastar-se do centro das decisões do GES. "Não estava operacionalmente envolvido no grupo", disse, explicando aos deputados da comissão de inquérito sobre o BES, nesta quarta-feira, que exerceu a sua actividade, quase sempre, na Alemanha. "Vinha a Portugal para as reuniões do Conselho de Administração do BES."

 Esta audição tem uma advertência inicial: A primeira língua deste gestor é o alemão. Profissionalmente fala mais inglês que qualquer outro idioma. O português sai-lhe com dificuldade, e ainda mais perante o problema que o leva a comparecer na comissão de inquérito. Mosqueira do Amaral expressa-se num português com sotaque e com expressões difíceis como esta, a propósito das suas acções do BES: "Manti com umas percas grandes."


O ex-administrador procurava explicar que tinha comprado as acções do BES, em 2010, e desde então tinha perdido dinheiro. Mas reparou, em Janeiro de 2014, que o preço subia e, por isso, decidiu vender. José Magalhães, do PS, registou a coincidência: como administrador do BES, Mosqueira do Amaral já sabia, nessa altura, que havia muitos problemas no grupo. Mosqueira do Amaral confirmou: "A base de capital do Grupo era reduzida. O GES não nadava em dinheiro. Mas isso não queria dizer que o grupo estava falido..."

No entanto, "no final de 2013", algo mudou: "Fiquei mesmo assustado com isto tudo depois de Ricardo Salgado ter assumido a falsificação das contas pelo contabilista." Depois desse momento, Mosqueira do Amaral envolveu-se, com José Maria Ricciardi, numa estratégia: "Convidar o doutor Ricardo a demitir-se dos cargos." Era a hora, explicou, de dar lugar à "geração mais nova". Até porque havia, como vimos, "situações que deviam ser resolvidas". Exemplos: "As contas falsificadas e uns problemas com um banco em Angola."

Em 29 de Outubro "houve um encontro" destes administradores rebeldes. Em 7 de Novembro "foi acordado que ia haver uma preparação para a sucessão". Mas nada aconteceu... "Uma vez que houve o compromisso de mudança, nós tínhamos de dar tempo", explicou. 

E, em Janeiro, com as contas "falsificadas" na mira das autoridades, e ainda com Salgado ao leme, decide vender as suas acções, tendo comunicado por escrito à CMVM: "Tinha acções há muitos anos. Como vi que tinham subido, decidi vender. Precisava do capital."

"Nem a Libia, nem Angola, eram tratadas na área internacional do BES [que foi gerida por Mário Mosqueira do Amaral e, depois de 2008, pelo filho Pedro]. Parece que havia outra área internacional...", salienta o gestor do GES.

Inquirido pelo socialista José Magalhães, sobre o papel do supervisor, Mosqueira do Amaral optou por se resguardar debaixo do chapéu do supervisor: ”O Banco de Portugal tentou manter a estabilidade do banco até ao aumento de capital. Não é uma opinião minha, são factos. Sempre apoiei as decisões” do regulador.  

Cecilia Meirelles, do PP,confrontou Mosqueira do Amaral, sobre a relação do GES com o BESA, tendo este explicado que se “apercebeu que o crédito dado era o dobro dos depósitos e isso não pode acontecer. Mas o Dr. Álvaro Sobrinho não dava informação a ninguém, só ao Dr. Salgado”

À deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, o gestor respondeu que embora tenha tido “suspeitas” quanto aos créditos concedidos por Álvaro Sobrinho no BESA, “ é melhor nem me meter nisso” e garantiu desconhecer “esse senhor” Alexandre Cadosch mas que ele aparecia nas assembleias-gerais da ESFG, muito embora não saiba se estava em representação de outros accionistas. E salientou que “nas reuniões do Conselho Superior [do GES] as decisões quando eram apresentadas já estavam em vigor, não podia votar.”

Por sua vez. Miguel Tiago, do PCP, quis saber se sentiu falta de apoio do Governo ao GES e ao BES: “Para um grupo que tenha contas falsificadas, não vejo nenhum apoio de políticos ou autoridades, acho que não há nenhum suporte para contas falsificadas“.

Sobre a reunião do Conselho Superior em que Salgado pediu para não se debater o presente de 14 milhões que havia recebido do construtor José Guilherme, “por se tratar de uma questão pessoal, Mosqueira do Amaral respondeu nestes termos a Paulo Rios de Oliveira do PSD: “Perante uma resposta destas o que quer que eu diga?”

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