Comissário europeu foi a Atenas para convencer deputados a elegerem Presidente

Se a eleição de Stavros Dimas não ocorrer ao cabo de três tentativas, a primeira já na quarta-feira, haverá legislativas antecipadas. Juncker disse que “não gostaria que forças extremistas chegassem ao poder” e que prefere “rostos familiares”.

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Samaras, à esquerda, e Moscovici: primeiro-ministro fez aposta de risco, comissário quer Presidente eleito YIANNIS LIAKOS/AFP

A Comissão Europeia não esconde a preferência: quer Stavros Dimas, do partido conservador Nova Democracia, na Presidência da Grécia, para evitar eleições legislativas antecipadas, que poderiam fazer chegar ao poder o Syriza (Coligação de Esquerda Radical). O comissário dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, está em Atenas e em declarações ao diário Kathimerini foi claro: “Preferiríamos que o actual Parlamento elegesse um Presidente”.

Os deputados gregos são chamados a eleger o sucessor de Karolos Papoulias e se o não conseguirem ao cabo de três tentativas – nesta quarta-feira ou nos dias 23 ou 29 – o Parlamento é dissolvido, sendo convocadas legislativas para Janeiro, em que o favoritismo vai, segundo as sondagens, para o Syriza.

Moscovici, que, nesta segunda e terça, está em contactos com o primeiro-ministro Antonis Samaras, e com ministros da coligação Nova Democracia-Partido Socialista, disse que é importante a Grécia “continuar na via da reconstrução e do desenvolvimento”. E referiu-se a Stavros Dimas, 73 anos, ex-comissário europeu do Ambiente, candidato único na eleição presidencial indirecta, como um “homem bom”.

Menos preocupado com as palavras, o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, afirmou, no final da semana passada, a uma televisão austríaca, que “não gostaria que forças extremistas chegassem ao poder” e que “prefere rever rostos familiares em Janeiro”.

É altamente improvável que a questão presidencial seja clarificada na primeira votação ou mesmo na segunda. Para ser eleito numa das duas primeiras rondas, Stavros Dimas teria de receber o “sim” de 200 dos 300 deputados que compõem o Parlamento. O que não é previsível, tendo em conta que o Governo é apoiado por 155 eleitos: 127 conservadores e 28 socialistas.

O futuro político próximo da Grécia só deverá jogar-se na terceira ronda, a 29 de Dezembro. Se, como é mais previsível, a eleição não ocorrer nas duas primeiras votações, a fasquia de votos necessários baixa nessa altura para 180. Mas, ainda assim, as possibilidades de Dimas parecem escassas.

O Syriza, que tem 71 deputados; os comunistas do KKE, 12; os populistas de direita Gregos Independentes, 12; os neonazis Aurora Dourada, 16; e o Dimar, de esquerda democrática, dez; já disseram, segundo a AFP, que não votarão nele. Para obter os votos necessários, o Governo terá de conseguir apoios entre os 24 deputados independentes e de atrair descontentes de outros partidos. 

A antecipação em dois meses das presidenciais foi anunciada há uma semana, depois de o Eurogrupo ter aprovado um pedido da Grécia para uma extensão do programa da troika, por dois meses, até ao final de Fevereiro. Foi uma decisão de risco de Antonis Samaras, que, em caso de eleições antecipadas, deverá insistir no argumento de que uma vitória do Syriza, que se opõe à austeridade, traria um período de incerteza.

Os mercados depressa interiorizaram os receios de instabilidade - a bolsa de Atenas caiu mais de 20% na semana passada, uma quebra só muito limitadamente atenuada com ganhos de 1,45% registados nesta segunda-feira.

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