Transportes Urbanos de Braga invertem ciclo de dez anos de perda de passageiros

Empresa deverá chegar ao final do ano a ganhar quase 1% face ao ano anterior. Maior investimento em promoção e melhoria do serviço explicam resultado em contraciclo com o resto do país.

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Miguel Nogueira

Luís ainda se sente desconfortável dentro de um autocarro. Aos 23 anos, conta pelos dedos de uma mão o número de vezes que, até agora, tinha usado os transportes públicos para de deslocar dentro de Braga. Costumava resolver as suas necessidades entre as boleias dos pais e o uso do automóvel da família. Mas desta vez optou pelo autocarro. Tem de ir ao hospital a uma consulta e decidiu embarcar num dos veículos que faz a nova linha urbana, que termina precisamente em frente à unidade de saúde.

“Pus-me a fazer as contas: se viesse de carro, tinha que estacionar no hospital, o que fica caro. É mais barato e confortável vir de autocarro”, explica. Argumentos como estes parecem estar a convencer cada vez mais bracarenses a optar pelos transportes públicos. Os Transportes Urbanos de Braga (TUB) devem fechar o ano com um crescimento de quase 1% no número de passageiros transportados, em contra-ciclo com os restantes serviços de transportes públicos nacionais. Além disso, estes resultados conseguem um outro feito: pôr fim a dez anos praticamente ininterruptos em que a empresa pública bracarense foi sempre perdendo passageiros.

Em 2004, os TUB transportaram quase 12 milhões de passageiros - ficcionando, para simplificar, que cada viagem corresponde a uma pessoa. No ano passado, não entraram nos autocarros de Braga muito mais do que 10 milhões de utentes. A descida fora quase constante, com um único ano a contrariar a tendência, 2011 (10,8 milhões de passageiros), resultado que coincidiu com a entrada em funcionamento do novo hospital de Braga, bastante mais deslocado do centro da cidade do que o velho S. Marcos.

A previsão da administração é que, no final do ano, o crescimento se cifre em 0,8%. De resto, a empresa já tinha ultrapassado, no mês passado, o total de passageiros transportados em todo o ano anterior (10,25 milhões) e, neste momento, já acrescentou cerca de 70 mil passageiros ao registo homólogo.

“É a promoção que dá resposta a isto”, justifica o administrador dos TUB, Baptista da Costa, escolhido pela autarquia há um ano para liderar a empresa – e que tem no currículo passagens pela administração do porto de Leixões e pela direcção do Metro do Porto, na fase de concepção do sistema. Por exemplo, foi criada a iniciativa mensal “Pequeno-almoço com”, em que convida personalidades da cidade para fazer a primeira refeição do dia junto dos responsáveis da empresa, garantindo visibilidade na imprensa local, e tem aumentado o seu investimento em publicidade.

Mas há outra explicação para os bons resultados dos TUB: as alterações ao serviço que têm permitido chegar a novos públicos. É disso exemplo a criação da linha urbana entre o parque das Camélias e o hospital, com frequência de 15 minutos, a mesma em que Filipe embarca para sua consulta, pela primeira vez. Houve também um reforço dos serviços nocturnos e o prolongamento de várias linhas até ao interior do hospital. Por outro lado, foram criados serviços especiais como o que permitia o acesso às praias fluviais do rio Cávado durante o Verão ou o transporte entre os parques de estacionamento na periferia e o centro da cidade, durante a Noite Branca.

“Temos que ser capazes de dar novos motivos às pessoas para que elas tenham vontade de usar os TUB”, defende Baptista da Costa. O administrador reconhece, porém, que há ainda um caminho a percorrer para melhorar a qualidade do serviço dos transportes públicos na cidade. As linhas têm que ser redesenhadas, para irem ao encontro das necessidades da população, reforçar a intermodalidade e a relação com os percursos cicláveis ou pedestres. E é preciso renovar uma frota em que a idade média dos veículos atinge os 16 anos. Até Outubro do próximo ano, deverá estar implementado o Plano Municipal de Mobilidade Sustentável que permita dar resposta à maioria destas preocupações.

BRT planeado até 2025
O primeiro serviço de Bus Rapid Transit (BRT) de Portugal, uma espécie de metro de superfície, mas baseado em autocarros, deverá surgir em Braga nos próximo dez anos. Essa é a intenção da administração dos TUB, que está a preparar o projecto para o candidatar a fundos do novo Quadro Comunitário de Apoio.

O BRT permite maior flexibilidade e um custo significativamente mais baixo do que uma linha de metro ou elétrico e poderá ser a solução para transformar o transporte público na cidade. A linha pensada para Braga tem sido designada pela administração dos TUB como o “anel da mobilidade”, um serviço circular com as extremidades, a Norte, na Variante do Fojo, um pouco além do campus da Universidade do Minho e, a Sul, no eixo das saídas da cidade em direcção a Barcelos e ao Porto.

O circuito do BRT permitiria também ligar a estação de caminho-de-ferro, a central rodoviária e o centro urbano da cidade. O plano tem um custo estimado de 120 milhões de euros e um plano de investimento a concretizar ao longo de um período de dez anos.

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