Colónias de legionella em fábrica de Sines pode ser a ponta do iceberg

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Na área envolvente de Sines há mais de 200 proprietários que reclamam terrenos expropriados Rui Gaudêncio

Apesar da preocupação das autoridades de saúde pública em evitar o alarmismo, são patentes sinais de intranquilidade nas comunidades próximas do complexo industrial de Euroresinas, em Sines.

O surgimento de colónias de legionella na Euroresinas, fábrica que produz resinas sintéticas de formaldeído, suscitou apreensões na CDU local que, na quinta-feira, avançou com a discussão deste problema na reunião da assembleia municipal de Sines.

Hélder Guerreiro, vereador desta força política no executivo municipal, disse ao PÚBLICO que “não deixa de ser estranho o aparecimento da legionella na Euroresinas depois do surto de Vila Franca de Xira”.

A sua preocupação vai para o facto de estarem concentradas no complexo industrial de Sines várias empresas que dispõem de equipamentos “passíveis de acolher focos de legionella” precisou o autarca, reclamando a divulgação dos resultados das análises, se estas foram feitas e quando, ao despiste da bactéria.

Hélder Guerreiro critica o comportamento das empresas depois de o Governo ter eliminado, através de legislação publicada em 2013, as auditorias obrigatórias à qualidade do ar interior dos edifícios, admitindo que se possa estar perante a “ponta do iceberg”. O vereador da CDU critica a actuação da Autoridade de Saúde Pública por “não associar o risco de legionella à existência de enormes torres de refrigeração no complexo de Sines”, exigindo a monitorização dos equipamentos industriais. Com efeito, trabalham nas várias indústrias ali instaladas cerca de oito mil trabalhadores, e a presença de um ou mais focos coloca em risco a saúde pública, alerta o autarca, frisando que a população de Sines “estará, de certa forma, mais protegida” por se encontrar a cerca de seis quilómetros das instalações industriais susceptíveis de risco.

Confrontada pelo PÚBLICO com a posição do autarca, Fernanda Santos, da Autoridade de Saúde Pública de Sines, argumenta que “as empresas cumprem a lei fazendo a monitorização, porque são obrigadas”. Foi assim que “a Euroresinas detectou” a presença de colónias da bactéria patogénica, assinala, acrescentando que “até ao momento não apareceu ninguém” contagiado pela legionella, nem tem dados novos a acrescentar ao teor do comunicado divulgado na quinta-feira e que dava conta do foco na empresa de Sines.

Hélder Guerreiro não advoga atitudes especulativas que possam incutir “pânico ou medo” nas populações, “mas é evidente que as pessoas estão apreensivas com o que se está a passar”.

Este sentimento de preocupação é extensivo a Álvaro Beijinha, presidente da Câmara de Santiago do Cacém, dando conta que no seu concelho reside mais de 50% da mão-de-obra que trabalha no complexo de Sines. “Só da Refinaria da Petrogal mais de 70% dos seus funcionários residem em Santiago do Cacém", informa.

“O risco de outras empresas poderem ter focos da bactéria impõe a sua monitorização” defende o autarca, pois existem na região um conjunto de unidades industriais “com o mesmo tipo de sistemas” existentes na Euroresinas.

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