Obama promete resposta a “profunda injustiça”

Presidente sob pressão para reagir. Protestos pela morte de Eric Garner continuam.

Foto
Protesto contra a morte de um negro desarmado por um polícia branco em Nova Iorque Eric Thayer/AFP

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou “mais passos” para assegurar “que todos os americanos têm confiança na polícia e que os agentes servem todos de igual modo”. Uma promessa que surge quando se mantêm os protestos pela decisão de um grande júri não acusar um polícia que matou um negro desarmado.

Obama já tinha anunciado algumas medidas incluindo a compra de 50 mil câmaras de filmar individuais para serem utilizadas pelos agentes. Activistas queixam-se de que estas não servirão o objectivo: no caso de Eric Garner a acção do polícia, que continuava com o braço à volta do seu pescoço apesar das queixas de Garner (“Não consigo respirar!”, avisava), não contribuiu para que o caso fosse a tribunal.

Após uma conversa com o presidente da câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, Obama prometeu mais medidas “para assegurar que todos os americanos têm confiança na polícia e que os agentes estão a servir todos de modo igual”. “Como temos visto, infelizmente, nos últimos tempos, demasiados americanos sentem uma profunda injustiça em relação à distância entre os nossos ideais e como as leis são aplicadas no dia-a-dia”, disse o Presidente.

De Blasio, cuja mulher é negra, tinha comentado recentemente a questão falando do próprio filho: disse como ele e a mulher tinham tido “literalmente de o treinar, como têm feito famílias nesta cidade durante décadas, para ter cuidado especial em qualquer encontro com agentes da polícia que existem para o proteger”.

Em Nova Iorque continuam protestos pela decisão de não levar o polícia a julgamento pela segunda noite consecutiva, e a polícia deteve cerca de 200 pessoas na noite de quinta-feira.

Uma task-force da Casa Branca irá ainda debruçar-se sobre como a polícia local está a ter acesso a armas pesadas vindas do exército, e antes usadas em cenários de guerra. Pressionado por jornalistas quanto a possíveis consequências concretas (demasiados grupos de estudo e recomendações de acção não têm qualquer seguimento), o porta-voz Josh Earnest disse que iria “haver resultados”.

O próprio Obama já se tinha queixado, esta segunda-feira: “Já houve comissões, já houve task-forces, já houve conversas, e não aconteceu nada.”

Há uma grande pressão sobre o Presidente para fazer mais, mas também se têm sublinhado os limites do primeiro Presidente negro dos EUA e do procurador-geral (equivalente a ministro da Justiça), Eric Holder (o primeiro afro-americano a ocupar este cargo), diz o Wall Street Journal.

Analistas sublinham que há um risco para o Presidente: ser visto como alguém que fala mas não faz. “Ele tem de falar sobre estas questões quando acontecem”, disse Brandon Rottinghaus, professor de ciência política na Universidade de Houston, ao Washington Times. “Mas de cada vez em que fala e não pode fazer nada sobre isso, faz com que pareça fraco. Se não conseguir mostrar algum tipo de movimento em termos de política mas continuar a ser forçado a falar, mostra-se um líder sem poder.”

A Casa Branca pondera ainda se Obama deveria visitar Ferguson ou Staten Island, onde ocorreram dois dos casos mais recentes de negros desarmados mortos pela polícia em que o agente não foi acusado. Uma fonte da Administração diz que por agora o foco é na acção e não numa visita.

Em Ferguson (Missouri), a decisão de um grande júri não acusar Darren Wilson, o polícia (branco, como a esmagadora maioria dos agentes da cidade de maioria negra), pela morte de Michael Brown, levou a protestos por vezes violentos, que se espalharam a várias cidades americanas. Em Staten Island (Nova Iorque), a mesma decisão levou ainda a mais protestos, sobretudo por se tratar de um caso em que a acção ofensiva do polícia é filmada, a reacção do suspeito também (“Não consigo respirar”, queixava-se Eric Garner, antes de morrer; “não consigo respirar”, repetiam os manifestantes em Nova Iorque).

A congressista democrata Marcia Fudge foi uma das vozes mais críticas da decisão de não acusar o agente: “Mesmo perante prova de vídeo, parece que não vai haver justiça para Eric Garner ou a sua família”, lamentou. “No período de duas semanas, esta nação parece ter ouvido uma mensagem alto e bom som: não haverá responsabilização por tirar vidas a negros. Como americana, está a tornar-se cada vez mais difícil de acreditar que haverá justiça para todos.” 

Sugerir correcção
Ler 3 comentários