O mundo ficou lá atrás

Os Foo Fighters não têm, afinal, muita história. São um anacronismo de cara simpática

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Sonic Highways

 é como que um álbum conceptual. Foi, pelo menos, gravado enquanto tal. Nasceu durante as filmagens de uma série sobre a personalidade musical de oito cidades americanas (Chicago, Nashville, Seattle, Nova Orleães, Nova Iorque, Arlington, Austin e Joshua Tree), estreada a semana passada na HBO e apresentada por Dave Grohl. Segundo ele, cada canção do oitavo álbum dos Foo Fighters reflecte o mergulho na tradição de cada cidade visitada. Segundo aquilo que nos diz a audição do disco, a tradição de cada uma das cidades é rock de estádio bem polido à moda dos anos 1990. Ou seja, 

Sonic Highways

 são os Foo Fighters tal como os conhecemos: um derradeiro bastião do rock enquanto anacronia – mas o que é bom não volta a ser (pelo menos, exactamente da mesma forma).

É certo que ouvimos um órgão Clavinet a surgir efémero em Something from nothing para sugerir algum groove, mas soa a mero adereço – temos a mesma sensação, de resto, ao ouvir o Mellotron de Subterranean. Dave Grohl, homem de coração de ouro, divulgador empenhado, interessado e interessante, do rock americano e suas mitologias, baterista extraordinário, não conseguiu fazer justiça à sua ambição. Sonic Highways é apenas mais um disco dos Foo Fighters. E não é um particularmente inspirado: uns coros épicos adaptados dos Queen sobre a punkalhada chapa quatro de The feast and the famine; o encontro entre a banalidade bem-disposta, despretensiosa, dos Cheap Trick e o rock sulista dos Lynyrd Skynyrd em Congregation, fusão selada com refrão de auto-ajuda: “Open your eyes, step in the light”.

Estamos em 2014 mas em Sonic Highways o ano é 1995 e a MTV ainda não apagou o Music do nome. Nessa realidade paralela, “What did I do?/God as my witness”, ameaçaria fazer sombra nas tabelas das mais ouvidas na estação televisiva a uma qualquer balada dos Aerosmith, por alturas de Get a Grip. É só um exemplo, mas é eloquente. Os Foo Fighters não têm, afinal, muita história. São um anacronismo de cara simpática. O mundo ficou lá trás e eles não estão a andar em frente. 

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