Rússia à beira da recessão e com o rublo em queda livre

Putin prepara-se para acabar o ano com uma economia em situação de grande fragilidade.

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O rublo teve uma queda de cotação superior a 6% na passada segunda-feira VASILY MAXIMOV/AFP

Quando decidiu apostar todas as fichas no controlo da Crimeia e no suporte aos activistas pró-russos na províncias orientais da Ucrânia, Vladimir Putin não estaria propriamente a pensar que a sorte futura do jogo lhe iria ser adversa. Mas foi. Uma estranha combinação de factores, que raramente acontece, mas, às vezes, acontece mesmo, acabou por tornar a jogada expansionista do senhor do Kremlin num perigoso boomerang que acabou por lhe explodir nas mãos.

Após uma sucessão de acontecimentos que foi incapaz de controlar, Putin prepara-se para acabar o ano com uma economia em situação de grande fragilidade, a um passo de ter que ser conduzida para a sala de cuidados intensivos. O crescimento do produto interno bruto (PIB) deverá ser residual este ano e francamente negativo no próximo, os alicerces da economia interna (gás e petróleo) perdem valor no mercado mundial e a queda livre em que o rublo se encontra, além de encarecer as importações e, por via disso, agravar a dívida, pode tornar-se um risco para o sistema financeiro local, se os investidores se virarem para um movimento de troca de rublos por moedas fortes, como o dólar e o euro.

Com um quadro de sanções económicas europeias e norte-americanas que golpearam muitos dos equilíbrios internos, a Rússia deverá crescer este ano uns meros 0,6%. Mas o Ministério da Economia avisou ontem que a recessão está à porta e que, em 2015, o PIB deverá recuar 0,8%. A este facto não será alheia a queda brutal do preço do petróleo (mais de 40% em seis meses), que, em conjunto com o gás natural, é responsável por 50% das receitas orçamentais do Governo russo e por mais de dois terços das exportações do país.

A esperança de alguma inversão na tendência actual morou, na semana passada, em Viena, onde os responsáveis da Organização dos Países Exportadores de Petróleo se reuniram para analisar a possibilidade de uma redução de produção do cartel de forma a suster o descalabro da cotação da matéria-prima. Mas a Arábia Saudita acabou por impor o seu poder e, nesse quadro, os níveis de produção irão manter-se – o que torna mais difícil apostar numa recuperação do preço do barril de crude.

Para agravar o quadro, o banco central da Rússia decidiu, na semana passada, abandonar a política de suporte do rublo, permitindo que a moeda flutue livremente nos mercados cambiais. Resultado? Uma queda de cotação superior a 6% na passada segunda-feira, a maior desde o pico negro da crise de pagamentos de 1998, que acabou por reduzir ainda mais o tamanho do beco em que Putin acabou por se meter.

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