Médicos vão generalizar análises ao VIH e testes rápidos chegarão a mais centros de saúde

Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/sida demite-se de comissões de combate à sida. Ministro insiste no diagnóstico precoce.

Mais centros de saúde farão testes rápidos de VIH em 2015 Fabio Teixeira

Uma das apostas do Programa Nacional para a Infecção VIH/sida para o próximo ano é alargar o número de centros de saúde que fazem testes rápidos para detectar a infecção. Além disso, há uma nova orientação clínica para os médicos dos centros de saúde e hospitais: os testes ao VIH/sida devem ser pedidos a qualquer pessoa entre os 18 e os 64 anos.

A norma em causa, como avançou o Diário de Notícias, já foi concluída pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) e deverá ser publicada este mês. “Pretende-se que os médicos proponham às pessoas que tenham entre 18 e 64 anos fazer o teste pelo menos uma vez na vida”, explica o coordenador daquele programa, António Diniz, frisando que não se trata de incluir estes testes na rotina dos utentes, mas dos clínicos. Ou seja, se o utente o fizer uma vez, der negativo e não voltar a haver qualquer circunstância que o justifique, não será preciso repeti-lo.

A mudança é sobretudo “na rotina da prática clínica”: os médicos passam a aconselhar mais pessoas a fazer o teste, não se centrando sobretudo em grávidas, dadores de sangue, pessoas com determinadas manifestações clínicas ou utentes que tenham tido relações sexuais desprotegidas, partilhado seringas, entre outras situações.

A pessoa é informada que o teste vai ser pedido, em conjunto ou não com outras análises que podem ser de rotina, e se quiser pode recusar. Se a pessoa recusar, o médico deve registar. Pretende-se perceber, por exemplo, se num grupo de 10 pessoas, nove não fizeram o teste porque não quiseram ou porque ninguém lhes propôs. Num caso, ter-se-á de apostar mais na sensibilização junto dos utentes, no outro, junto dos clínicos, esclarece António Diniz.

O objectivo é o diagnóstico precoce: “As pessoas chegam tarde ao sistema de saúde. A pessoa já estava infectada e não sabia”, justifica, frisando que, segundo estudos recentes, em Portugal, 58% dos doentes são diagnosticados tarde, quando a média na Europa é 47%. Quanto mais cedo se detectar, melhor: “As pessoas conseguem ter melhor qualidade e esperança de vida e não transmitir a infecção. Estarem em tratamento também reduz o risco de infecção”, acrescenta António Diniz. A presidente da Liga Portuguesa Contra a Sida, Maria Eugénia Saraiva, também considera que a norma vai ajudar no rastreio precoce.

Embora sem adiantar números, António Diniz destaca ainda o alargamento dos testes rápidos “a mais centros de saúde”: “Alguns já têm e não será alargado a todos, mas, ao longo de 2015, os centros de saúde vão ter progressivamente a capacidade de fazer um teste rápido.”

No Dia Mundial da Luta Contra a Sida, que se assinalou nesta segunda-feira, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, também insistiu na importância do diagnóstico precoce, reconhecendo que “o sistema foi capaz de reduzir novos casos, mas ainda não tanto quanto deveria ser capaz”.

O governante falava no Congresso nacional VIH, Doenças Infecciosas e Microbiologia Clinica, que ficou ainda marcado pela demissão do Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/sida (GAT) das comissões que integrava, alegando “falta de respeito” por ter deixado de ser previamente consultado na aprovação de medidas. Luís Mendão denunciou ainda que os concursos do Estado para projectos a desenvolver em 2015 na área da sida ainda não abriram: “Não é possível planear actividades nestas circunstâncias.” O dirigente considerou também que os meios financeiros, humanos e técnicos postos à disposição do coordenador do programa nacional de luta contra o VIH/sida “são insuficientes”.

Ressalvando a “consideração e respeito” que tem pelo grupo, António Diniz lamenta o que considera ser um “mal-entendido” e, quanto aos concursos, diz que abrirão este mês. De resto, concorda com Luís Mendão: o Programa Nacional para a Infecção VIH/sida precisa de “mais financiamento e sobretudo mais recursos humanos”. com Lusa

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